terça-feira, 5 de novembro de 2013

O retorno do corpo de dor

  • Sentei-me e pedi uma refeição. Havia poucos clientes no restaurante além de mim. Próximo à minha mesa, um homem de meia-idade numa cadeira de rodas acabava de jantar. Ele me dirigiu o olhar uma vez - foi rápido, mas intenso. Alguns minutos se passaram. De repente, ele ficou inquieto, agitado, seu corpo começou a se contrair. O garçom aproximou-se para retirar o prato. O homem começou a discutir com ele.
  •  - A comida não estava boa. Estava horrível. 
  •  Então por que o senhor comeu? - perguntou o garçom. 

  • Bastou essa frase para deixá-lo furioso. Ele começou a gritar, tornou-se ofensivo. Palavrões saíam da sua boca. Um rancor intenso, violento, encheu o ambiente. Era possível sentir aquela energia entrando no corpo das pessoas à procura de algo a que pudesse se fixar. Agora o homem esbravejava também com os outros clientes. No entanto, por uma estranha razão, me ignorava completamente enquanto eu permanecia sentado num intenso estado de presença. Desconfiei de que o corpo de dor humano universal havia retornado para me dizer: "Você pensou que tinha me derrotado. Veja, ainda estou aqui." Também considerei a possibilidade de que o campo energético liberado durante a sessão com aquela mulher me seguira até o restaurante e se prendera à única pessoa ali que apresentava uma freqüência vibracional compatível com a sua, isto é, um corpo de dor pesado. 

  •  O gerente abriu a porta do restaurante: "Por favor, retire-se, retire-se." O homem saiu zunindo na sua cadeira de rodas elétrica, deixando todos perplexos. Um minuto depois ele voltou. Seu corpo de dor ainda estava ativo. Precisava de mais. Ele escancarou a porta com a cadeira de rodas e começou a gritar obscenidades. Uma garçonete tentou impedi-lo de entrar. Ele acelerou a cadeira e imprensou a moça contra a parede. Alguns clientes acorreram para tentar puxá-lo dali. Gritos, berros, pandemônio. Um pouco depois chegou um policial. O homem sossegou, pediram-lhe que saísse e não voltasse mais. Por sorte, a garçonete não se feriu, sofreu apenas alguns arranhões na perna. Quando tudo acabou, o gerente aproximou-se da minha mesa e me perguntou, meio na brincadeira, mas talvez sentindo intuitivamente que havia alguma ligação: "Foi você que provocou tudo isso?"

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