terça-feira, 5 de novembro de 2013

Conhecendo a nós mesmos e sobre nós mesmos


  • Talvez não queiramos nos conhecer porque sentimos medo do que podemos descobrir. Muitos indivíduos têm um temor secreto de que sejam maus. Mas nada que uma pessoa possa vir a saber a seu respeito é ela. Nada que venha a conhecer sobre si mesma é ela.

  •  Embora alguns indivíduos não queiram saber quem são por causa do temor, outros têm uma curiosidade insaciável a seu próprio respeito e desejam descobrir cada vez mais. Há quem seja tão fascinado por si mesmo que passe anos fazendo psicanálise, mergulhando em todos os aspectos da sua infância, descobrindo medos e desejos secretos e encontrando camadas e mais camadas de complexidade na constituição da sua personalidade e do seu caráter. Depois de 10 anos, o terapeuta pode ficar cansado desse cliente e da sua história e lhe dizer que a análise acabou. Talvez ele o mande embora com um dossiê de 5 mil páginas e lhe diga: "Tudo isso é sobre você. Isso é o que você é." Quando a pessoa carrega a pesada pasta para casa, sua satisfação inicial de, finalmente, conhecer a si mesma é logo substituída por um sentimento de insatisfação e por uma suspeita insidiosa de que deve haver mais coisas sobre quem ela é do que aquilo. E, na verdade, existe mais - talvez não em termos quantitativos, de mais fatos, e sim na dimensão qualitativa da profundidade.

  •  Não há nada de errado com a psicanálise nem com o fato de alguém descobrir mais a respeito do seu passado, desde que não confunda conhecer sobre si mesmo com conhecer a si mesmo. O dossiê de 5 mil páginas é sobre a pessoa: o conteúdo da sua mente que é condicionado pelo passado. Seja o que for que ela venha a aprender pela psicanálise ou pela observação de si mesma será sobre ela. Não é ela. É conteúdo, e não essência. Ir além do ego é sair do conteúdo. Conhecer a nós mesmos é ser nós mesmos. E ser nós mesmos é pararmos de nos identificar com o conteúdo. 

  •  As pessoas, em sua maioria, definem-se pelo conteúdo de suas vidas. Qualquer coisa que alguém perceba, experimente, faça, pense ou sinta é conteúdo. O conteúdo é o que absorve inteiramente a atenção da maior parte dos indivíduos e é aquilo com o que eles se identificam. Quando pensamos ou dizemos "minha vida", não estamos nos referindo à vida que nós somos, e sim à vida que temos ou parecemos ter. Estamos fazendo menção ao conteúdo, a elementos como idade, saúde, relacionamentos, finanças e trabalho, assim como a nosso estado "mental-emocional". As circunstâncias interiores e exteriores da nossa vida, bem como nosso passado e nosso futuro, pertencem ao âmbito do conteúdo - da mesma forma que os eventos, isto é, tudo o que acontece.

  •  O que existe além do conteúdo? Aquilo que permite que ele exista - o espaço interior da consciência.

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