segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O Prazer


  • A paz que acompanha a ação resignada transforma-se numa grande animação quando gostamos de verdade do que estamos fazendo. O prazer é a segunda modalidade da ação desperta. Na nova Terra, ele substituirá o querer como a força motivadora dos nossos atos. O querer deriva da ilusão do ego de que somos um fragmento isolado que está desligado do poder que se encontra por trás de toda criação. Por meio do prazer, nos conectamos a esse poder criativo universal. 

  •  Quando tornamos o momento presente, e não o passado nem o futuro, o nosso ponto focal, a capacidade que temos de gostar do que estamos fazendo aumenta extraordinariamente e, com ela, a qualidade da nossa vida. A alegria é o aspecto dinâmico do Ser. Sempre que o poder criativo do universo está consciente de si mesmo, ele se manifesta como prazer. Não precisamos esperar que aconteça algo "significativo" para que possamos nos alegrar com o que realizamos. Existe mais significado no prazer do que podemos precisar. A síndrome de "esperar para começar a viver" é um dos erros mais comuns do estado inconsciente. A expansão e a mudança positiva no nível exterior têm muito mais probabilidade de ocorrer na nossa vida se formos capazes de sentir prazer no que já estamos empreendendo, em vez de esperarmos por uma mudança para então passarmos a gostar do que fazemos.

  •  Não peça permissão à sua mente para apreciar o que você faz. Tudo o que obterá como resposta será uma série de motivos pelos quais não poderá sentir prazer naquilo. "Não agora. Não vê que está ocupado? Você não tem tempo. Talvez amanhã possa começar a sentir prazer...", dirá a mente. Esse amanhã nunca chegará, a não ser que você comece a sentir prazer com o que está executando agora. 

  • Sempre que dizemos "gosto de fazer isto", na verdade estamos cometendo um equívoco. Isso dá a impressão de que o prazer vem da ação, mas não é o caso. Ele flui para o que estamos fazendo e, dessa maneira, para o mundo, partindo do nosso íntimo. O erro de pensar que o prazer tem origem naquilo que executamos é normal. Porém, é também perigoso porque cria a idéia de que ele pode ser produzido por alguma coisa ou atividade. Assim, esperamos que o mundo nos dê prazer, felicidade. Entretanto, o mundo não consegue fazer isso. É por esse motivo que muitas pessoas vivem num permanente estado de frustração. A realidade não lhes concede aquilo de que elas pensam que precisam.

  •  Então, qual é a relação entre algo que estamos fazendo e o prazer? Sentimos prazer com qualquer atividade em que estejamos plenamente presentes, com toda ação que não seja apenas um meio para alcançarmos um fim. O que nos proporciona essa sensação não é o ato que executamos, e sim a energia vital que flui para ele. Essa animação e o que nós somos existem como uma coisa só. Isso significa que, quando temos prazer em fazer algo, estamos de fato sentindo a alegria do Ser no seu aspecto dinâmico. E por isso que tudo o que nos dá prazer nos coloca em contato com o poder que está por trás de toda criação. 

  •  Vou apresentar agora uma técnica espiritual que proporcionará mais poder e expansão criativa à sua vida. Faça uma lista das atividades cotidianas que você executa com freqüência. Inclua aquelas que considera desinteressantes, chatas, entediantes, irritantes ou estressantes. No entanto, não acrescente nada que você odeia ou detesta fazer - esses são casos para aceitação ou para deixar de realizar essas ações. Da relação podem constar a ida para o trabalho e a volta para casa, a compra de mantimentos, a preparação da comida ou qualquer coisa que você considere maçante ou estressante na sua rotina diária. Depois, quando estiver executando essas atividades, permita que elas sejam um veículo para o estado de alerta. Esteja absolutamente presente no que está fazendo e sinta sua atenção, o silêncio vivo dentro de você, como o pano de fundo desse ato. Logo descobrirá que, em vez de estressante, monótona ou irritante, sua ação no estado de consciência elevada acaba se tornando agradável. Para ser mais preciso, o que lhe dá prazer não é a ação externa em si, mas a dimensão interna da consciência que flui para ela. Isso é encontrar a alegria do Ser no que você está executando. Caso sinta que não há significado na sua vida ou que ela está cheia de tensão ou tédio, é porque ainda não incorporou essa dimensão. Agir com a consciência desperta ainda não se tornou seu objetivo principal.

  •  A nova Terra surge à medida que um número cada vez maior de pessoas vai descobrindo que seu propósito mais importante na vida é trazer a luz da consciência a este mundo e, assim, usa suas ações, sejam elas quais forem, como um veículo para a consciência.

  •  A alegria do Ser é a alegria de estar consciente.

  •  Então, a consciência desperta toma conta do ego e começa a conduzir nossa vida. Podemos descobrir que uma atividade em que estivemos envolvidos por um longo tempo começa a se tornar naturalmente algo bem maior quando fortalecida pela consciência.

  •  Algumas das pessoas que, por meio da ação criativa, enriquecem a vida de muitas outras estão simplesmente fazendo aquilo de que mais gostam - não têm a intenção de alcançar nada nem de se tornar nada por meio dessa atividade. Podem ser músicos, artistas plásticos, escritores, cientistas, professores, construtores ou indivíduos que criam novas estruturas sociais ou empresariais (negócios conscientes). Há casos em que sua esfera de influência permanece restrita durante alguns anos. Depois, súbita ou gradualmente, uma onda de poder criativo flui para o que eles estão executando. Assim, sua atividade se expande ultrapassando tudo o que possam ter imaginado e atinge um número imenso de pessoas. Além do prazer, uma intensidade é agora acrescentada às suas realizações e, com ela, surge uma criatividade que supera qualquer coisa que um ser humano comum poderia empreender.

  •  Em casos como esse, não devemos deixar que isso nos suba à cabeça porque um remanescente do ego pode estar se escondendo justamente ali. Ainda seremos um ser humano comum. O que é de fato extraordinário é o que entra no mundo por nosso intermédio. Mas essa é uma essência compartilhada por todos os seres. Hafiz, poeta persa do século XIV e mestre sufista, expressa essa verdade de forma maravilhosa: "Sou como um orifício na flauta pelo qual passa o sopro de Cristo. Ouça a música."1

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