
 
- Talvez  não  queiramos  nos  conhecer  porque  sentimos  medo  do  que  podemos descobrir. Muitos indivíduos têm um temor secreto de que sejam  maus. Mas nada que uma pessoa possa vir a saber a seu respeito é ela. Nada 
que venha a conhecer sobre si mesma é ela.
 
 
-  Embora  alguns  indivíduos  não  queiram  saber  quem  são  por  causa  do  temor, outros têm uma curiosidade insaciável a seu próprio respeito e desejam  descobrir cada vez mais. Há quem seja tão fascinado por si mesmo que passe 
anos fazendo psicanálise, mergulhando em todos os aspectos da sua infância,  descobrindo medos e desejos secretos e encontrando camadas e mais camadas 
de  complexidade  na   constituição  da  sua  personalidade   e   do  seu  caráter.  Depois  de  10  anos,  o  terapeuta  pode  ficar  cansado  desse  cliente  e  da  sua  história e lhe dizer que a análise acabou. Talvez ele o mande embora com um  dossiê de 5 mil páginas e lhe diga: "Tudo isso é sobre você. Isso é o que você  é." Quando a pessoa carrega a pesada pasta para casa, sua satisfação inicial de,  finalmente,  conhecer  a  si  mesma  é  logo  substituída  por  um  sentimento  de  insatisfação e por uma suspeita insidiosa de que deve haver mais coisas sobre 
quem ela é do que aquilo. E, na verdade, existe mais - talvez não em termos  quantitativos, de mais fatos, e sim na dimensão qualitativa da profundidade.
 
 
-  Não há nada de errado com a psicanálise nem com o fato de alguém  descobrir mais a respeito do seu passado, desde que não confunda conhecer  sobre si mesmo com conhecer a si mesmo. O dossiê de 5 mil páginas é sobre  a pessoa: o conteúdo da sua mente que é condicionado pelo passado. Seja o  que for que ela venha a aprender pela psicanálise ou pela observação de si 
mesma será sobre ela. Não é ela. É conteúdo, e não essência. Ir além do ego é  sair  do  conteúdo.  Conhecer  a  nós  mesmos  é  ser  nós  mesmos.  E  ser  nós 
mesmos é pararmos de nos identificar com o conteúdo. 
 
 
-  As  pessoas,  em  sua  maioria,  definem-se  pelo  conteúdo  de   suas  vidas.  Qualquer  coisa  que  alguém  perceba,  experimente,  faça,  pense  ou  sinta  é 
conteúdo. O conteúdo é o que absorve inteiramente a atenção da maior parte  dos indivíduos e é aquilo com o que eles se identificam. Quando pensamos ou 
dizemos "minha vida", não estamos nos referindo à vida que nós somos, e sim  à vida que temos ou parecemos ter. Estamos fazendo menção ao conteúdo, a  elementos  como  idade,  saúde,  relacionamentos,  finanças  e  trabalho,  assim  como  a  nosso  estado  "mental-emocional".  As   circunstâncias  interiores  e  exteriores da nossa vida, bem como nosso passado e nosso futuro, pertencem  ao âmbito do conteúdo - da mesma forma que os eventos, isto é, tudo o que 
acontece.
 
 
-  O que existe além do conteúdo? Aquilo que permite que ele exista - o  espaço interior da consciência.
 
 
 
 

 
- Quem nós pensamos que somos está intimamente ligado a como nos  consideramos tratados pelos outros. Muitas pessoas se queixam de que não  recebem  um  tratamento  bom  o  bastante.  "Não  me  tratam  com  respeito, 
atenção, reconhecimento, consideração. Tratam-me como se eu não tivesse  valor",  elas  dizem.  Quando  o  tratamento  é  bondoso,  elas  suspeitam  de 
 
motivos  ocultos.  "Os  outros  querem  me  manipular,  levar  vantagem  sobre  mim. Ninguém me ama."
 
 
-  Quem elas pensam que são é isto: "Sou um pequeno eu' carente cujas  necessidades não estão sendo satisfeitas." Esse erro básico de percepção de 
quem  elas  são  cria  um  distúrbio  em  todos  os  seus  relacionamentos.  Esses  indivíduos acreditam que não têm nada a dar e que o mundo ou os outros  estão ocultando delas aquilo de que precisam. Toda a sua realidade se baseia 
num sentido ilusório de quem elas são. Isso sabota situações, prejudica todos  os  relacionamentos.  Se  o  pensamento  de  falta  -  seja  de  dinheiro,  reconhecimento ou amor - se tornou parte de quem pensamos que somos,  sempre experimentaremos a falta. Em vez de reconhecermos o que já há de 
bom na nossa vida, tudo o que vemos é carência. Detectarmos o que existe de  positivo na nossa vida é a base de toda a abundância. O fato é o seguinte: seja  o que for que nós pensemos que o mundo está nos tirando é isso que estamos  tirando do mundo. Agimos assim porque no fundo acreditamos que somos 
pequenos e que não temos nada a dar.
 
 
-  Se esse for o seu caso, experimente fazer o seguinte por duas semanas e  veja como sua realidade mudará: dê às pessoas qualquer coisa que você pense  que elas estão lhe negando - elogios, apreço, ajuda, atenção, etc. Você não tem 
isso? Aja exatamente como se tivesse e tudo isso surgirá. Logo depois que  você começar a dar, passará a receber. Ninguém pode ganhar o que não dá. O  fluxo de entrada determina o fluxo de saída. Seja o que for que você acredite  que o mundo não está lhe concedendo você já possui. Contudo, a menos que  permita que isso flua para fora de você, nem mesmo saberá que tem. Isso  inclui a abundância. A lei segundo a qual o fluxo de saída determina o fluxo de  entrada é expressa por Jesus nesta imagem marcante: "Dai, e dar-se-vos-á. 
 Colocar-vos-ão  no  regaço   medida  boa,  cheia,  recalcada,  sacudida  e  transbordante,  porque,  com  a  mesma  medida  com   que  medirdes,  sereis 
medidos vós também."1
 
 
-  A fonte de toda a abundância não está fora de você. Ela é parte de quem  você é. Entretanto, comece por admitir e reconhecê-la exteriormente. Veja a 
plenitude da vida ao seu redor. O calor do sol sobre sua pele, a exibição de  flores magníficas num quiosque de plantas, o sabor de uma fruta suculenta, a 
sensação no corpo de toda a força da chuva que cai do céu. A plenitude da  vida está presente a cada passo. Seu reconhecimento desperta a abundância 
interior adormecida. Então permita que ela flua para fora. Só fato de você  sorrir para um estranho já promove uma mínima saída de energia. Você se 
torna um doador. Pergunte-se com freqüência: "O que posso dar neste caso? 
 
Como  posso  prestar  um  serviço  a  esta  pessoa  nesta  situação?"  Você  não  precisa ser dono de nada para perceber que tem abundância. Porém, se sentir  com freqüência que a possui, é quase certo que as coisas comecem a acontecer 
na sua vida. Ela só chega para aqueles que já a têm. Parece um tanto injusto,  mas é claro que não é. É uma lei universal. Tanto a fartura quanto a escassez 
são  estados  interiores  que  se  manifestam  como  nossa  realidade.  Jesus  fala  sobre isso da seguinte maneira: "Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não 
tem, se lhe tirará até o que não tem."2
 
 
 
 

 
- Nosso  sentido  de  quem  somos  determina  o  que  percebemos  como  nossas necessidades e o que importa na nossa vida - e o que nos interessa tem 
o poder de nos irritar e perturbar. Podemos usar isso como um critério para 
 
descobrir até que ponto nos conhecemos. O que nos interessa não é o que  dizemos nem aquilo em que acreditamos, mas o que nossas ações e reações  revelam  como  importante  e  sério.  Portanto,  talvez  queiramos  nos  fazer  a 
seguinte  pergunta:  o  que   me   irrita  e   perturba?   Se  coisas  pequenas   têm   a  capacidade   de  nos   atormentar,  então   quem    pensamos  que  somos   é  exatamente  isto:  pequeno.  Essa  é   nossa  crença  inconsciente.  Quais  são  as  coisas  pequenas?  No    fim  das  contas,  todas  as  coisas  são  pequenas  porque  todas elas são efêmeras. 
 
 
-  Podemos até dizer: "Sei que sou um espírito imortal" ou "Estou cansado  deste  mundo  louco.  Tudo  o  que  quero  é  paz"  -  até  o  telefone  tocar.  Más 
notícias: o mercado de ações caiu, o acordo pode não dar certo, o carro foi  roubado, nossa sogra chegou, cancelaram a viagem, o contrato foi rompido, 
nosso  parceiro  ou  parceira  foi  embora,  alguém  exige  mais  dinheiro,  somos  responsabilizados  por  algo.  De   repente  ocorre  um   ímpeto  de  raiva,  de  ansiedade.  Uma  aspereza  brota  na  nossa  voz:  "Não  agüento  mais  isto." 
Acusamos  e  criticamos,  atacamos,  defendemos  ou  nos  justificamos,  e  tudo  acontece  no  piloto  automático.  Alguma  coisa  obviamente  é  muito   mais  importante agora do que a paz interior que um momento atrás dissemos que 
era  tudo  o  que  desejávamos.  E  já  não  somos  mais  um  espírito  imortal.  O  acordo, o dinheiro, o contrato, a perda ou a possibilidade da perda são mais 
relevantes. Para quem? Para o espírito imortal que dissemos ser? Não, para  nosso  pequeno  eu  que  busca  segurança  ou  satisfação  em  coisas  que  são  transitórias e fica ansioso ou irado porque não consegue o que deseja. Bem, 
pelo menos agora sabemos quem de fato pensamos que somos. 
 
 
-  Se a paz é de fato aquilo que desejamos, então devemos escolhê-la. Se ela  fosse  mais  importante  para  nós  do  que  qualquer  outra  coisa  e  se  nós  nos  reconhecêssemos de verdade como um espírito em vez de um pequeno eu, 
permaneceríamos  sem  reagir  e  num  absoluto  estado  de  alerta  quando  confrontados  com  pessoas  ou   circunstâncias  desafiadoras.  Aceitaríamos  de 
imediato  a  situação  e,  assim,  nos  tornaríamos  um  com  ela  em   vez  de  nos  separarmos   dela.  Depois,  da  nossa  atenção  consciente  surgiria  uma   reação.  Quem  nós   somos  (consciência)  -  e  não  quem  pensamos  que  somos  (um  pequeno eu) - estaria reagindo. Isso seria algo poderoso e eficaz e não faria de 
ninguém nem de uma situação um inimigo. 
 
 
-  O mundo sempre se assegura de impedir que nos enganemos por muito  tempo  sobre  quem  de  fato  pensamos  que  somos  nos  mostrando  o  que 
realmente  é  importante  para  nós.  A  maneira  como  reagimos  a  pessoas  e 
 
situações, sobretudo quando surge um desafio, é o melhor indício de até que  ponto nos conhecemos a fundo. 
 
 
-  Quanto mais limitada, quanto mais estreitamente egóica é a visão que  temos  de  nós  mesmos,  mais  nos  concentramos  nas  limitações  egóicas  -  na 
inconsciência - dos outros e reagimos a elas. Os "erros" das pessoas ou o que  percebemos  como  suas  falhas  se  tornam  para  nós  a  identidade  delas.  Isso  significa que vemos apenas o ego nos outros e, assim, fortalecemos o ego em  nós. Em vez de olharmos "através" do ego deles, olhamos "para" o ego. E 
quem está fazendo isso? O ego em nós.
 
 
-  As pessoas muito inconscientes sentem o próprio ego por meio do seu  reflexo nos outros. Quando compreendemos que aquilo a que reagimos nos 
outros também está em nós (e algumas vezes apenas em nós), começamos a  nos  tornar  conscientes  do  nosso  próprio  ego.  Nesse  estágio,  podemos  também compreender que estamos fazendo às pessoas o que pensávamos que  elas estavam fazendo a nós. Paramos de nos ver como uma vítima. 
 
 
-  Nós não somos o ego. Portanto, quando nos tornamos conscientes do  ego em nós, isso não significa que sabemos quem somos - isso quer dizer que 
sabemos quem não somos. Mas é por meio do conhecimento de quem não  somos que o maior obstáculo ao verdadeiro conhecimento de nós mesmos é 
removido. 
 
 
-  Ninguém   pode  nos  dizer  quem  somos.  Seria    apenas   outro  conceito,  portanto   não  nos  faria  mudar.  Quem  nós  somos  não  requer  crença.  Na  verdade,  toda     crença  é   um  obstáculo.   Isso  não  exige  nem  mesmo  nossa  compreensão,   uma  vez    que  já   somos    quem   somos.  No  entanto,  sem  a  compreensão,    quem   nós somos não brilha neste mundo. Permanece na  dimensão não manifestada que, é claro, é seu verdadeiro lar. Nós somos então  como uma pessoa aparentemente pobre que não sabe que tem uma conta de 
100  milhões  de  reais  no  banco.  Com  isso,  nossa  riqueza  permanece  um  potencial oculto.
 
 
 
 

 
- Gnothi  Seauton  -  "Conhece-te  a  ti  mesmo".  Essas  palavras  estavam  inscritas acima da entrada do templo de Apolo em Delfos, lugar do Oráculo 
sagrado.   Na  Grécia  antiga,  as   pessoas  visitavam  o  Oráculo  esperando  descobrir  o  que  o  destino  lhes  reservava   ou  o  que   fazer  em  determinada  situação. É provável que a maioria delas lesse essa frase sem compreender que  ela indicava uma verdade mais profunda do que qualquer coisa que o Oráculo  pudesse  dizer.  Talvez   os  visitantes  também  não   compreendessem  que,  por 
mais  importante   que  fosse  a  revelação  ou  exatas   as  informações    que  recebessem,  elas  acabariam  por  se  mostrar  inúteis,  não   os  salvariam  de  infelicidades   futuras  nem  de   sofrimentos   criados  por  eles  mesmos,  caso  deixassem  de  encontrar  a   verdade  contida  na  exortação   "Conhece-te  a  ti 
mesmo".  O  significado  implícito  dessas  palavras  é:  antes  de  qualquer  indagação, faça a pergunta fundamental da sua vida: quem sou eu? 
 
 
-  As pessoas inconscientes - e muitas permanecem nesse estado, presas ao  ego ao longo de toda a sua existência - rapidamente nos dirão quem elas são: 
seu nome, sua ocupação, sua história pessoal, a forma ou a condição do seu  corpo  e  qualquer  outra  coisa  com  a  qual  se   identifiquem.   Outras   podem  parecer  mais  evoluídas  porque  se  consideram  almas  imortais  ou  espíritos  divinos. Mas será que elas conhecem de fato a si mesmas ou será que apenas  acrescentaram  alguns  conceitos    espiritualistas  ao  conteúdo  da   sua  mente?  Conhecer a si mesmo é algo muito mais profundo do que a adoção de um  conjunto  de  idéias  ou  crenças.   As   idéias  e  crenças  espirituais   podem,  no 
máximo,  ser  indicadores  úteis,  no  entanto  poucas   vezes  têm  o   poder  de  desalojar   os   conceitos  centrais  mais  firmemente  estabelecidos  de  quem 
pensamos  que  somos,  os  quais  fazem  parte  do  condicionamento  da  mente  humana. O profundo autoconhecimento não tem nada a ver com nenhuma 
idéia que esteja flutuando em torno da nossa mente. Conhecer a nós mesmos  é estarmos enraizados no Ser em vez de estarmos perdidos na nossa mente.
 
 
 
 

 
- Uma  pergunta  que  as  pessoas  costumam  fazer  é:  "De  quanto  tempo  precisamos para nos libertar do corpo de dor?" Evidentemente, isso depende 
tanto da densidade do corpo de dor (quanto do grau ou da intensidade da  presença manifestada de cada um de nós. No entanto, não é o corpo de dor, e  sim  a   identificação  com   ele  que  causa  o  sofrimento  que  infligimos  a  nós  mesmos e aos outros. É essa identificação que nos leva a reviver o passado  vezes  sem  conta  e   nos  mantém   no  estado  de  inconsciência.  Assim,  uma  pergunta mais importante a fazer seria esta: "De quanto tempo necessitamos 
para nos libertar da identificação com o corpo de dor?"
 
 
-  A resposta a essa pergunta é: não demora tempo nenhum. Sempre que o  corpo  de  dor  estiver  em  atividade,  temos  que  estar  cientes  de  que  o  que 
estamos sentindo é o corpo de dor em nós. Esse conhecimento é tudo de que  precisamos  para  interromper  a  identificação  com  ele.  E,  quando  essa  identificação cessa, a transmutação tem início. O conhecimento impede que as 
emoções antigas surjam na nossa cabeça e controlem não só o dialogo interior  como também nossas ações e interações com as pessoas. Assim, o corpo de  dor  não  conseguirá  mais  nos  usar  e  se  renovar  por  nosso  intermédio.  As 
antigas emoções podem ainda viver em nós por algum tempo e aparecer de  vez em quando. Talvez também nos enganem ocasionalmente, fazendo com 
que  nos  identifiquemos  com  elas  de  novo  e,   desse  modo,  obscureçam  o  conhecimento,  porém  não  por  muito  tempo.  Não  projetarmos  as  antigas  emoções nas situações significa que devemos encará-las diretamente dentro de  nós. Pode não ser agradável, mas isso não chega a nos matar. Nossa presença 
é mais do que capaz de contê-las. As emoções não são quem nós somos.
 
 
-  Portanto,  quando  sentir  o  corpo  de  dor,  não  cometa  o  equívoco  de 
pensar que existe algo errado com você. O ego adora quando você faz de si  mesmo  um  problema.  O  conhecimento  precisa  ser  seguido  pela  aceitação. 
Qualquer  outra  coisa  irá  obscurecê-lo   novamente.  Aceitação  significa  que  você  se  permite  sentir  qualquer  coisa  naquele  momento.  Isso  é  parte  da 
essência do Agora. Você não pode discutir com o que é. Bem, você pode. No  entanto, se fizer isso, sofrerá. Por meio da aceitação, você se torna o que você 
é: vasto, pleno de espaço. Transforma-se no todo. Não é mais um fragmento,  que é como o ego vê a si mesmo. Sua natureza verdadeira emerge, e ela está  unificada com a natureza de Deus. 
 
 
-  Jesus indica isso nesta passagem: "Portanto, sede um todo, assim como  vosso Pai celeste é um iodo."1 No Novo Testamento temos, porém, "sede 
perfeitos", o que é um erro de tradução da palavra grega original, que significa 
 
"todo". Ou seja, não precisamos nos tornar um todo, mas sermos o que já  somos - com ou sem o corpo de dor.
 
 
 
 

 
- A primeira vista, pode parecer que o corpo de dor é o maior obstáculo  para o surgimento de uma nova consciência na humanidade. Ele ocupa nossa  mente,  controla   e   distorce   nosso  pensamento,  perturba   nossos  relacionamentos  e  se  parece  com   uma  nuvem  carregada   que  toma  todo  o  nosso  campo  energético.  Tende  a   nos  deixar  inconscientes,  espiritualmente  falando, isto é, num estado de total identificação com a mente e a emoção. Ele 
nos  faz  reagir  a  tudo,  nos  leva  a  dizer  e  fazer  coisas  que  são  criadas  para  intensificar a infelicidade que existe em nós e no mundo. 
 
 
-  No  entanto,  à  medida  que  a  infelicidade  aumenta,  ela  provoca  uma  perturbação  crescente  na  nossa  vida.  Talvez  o   corpo  não  suporte  mais  o 
estresse e desenvolva uma doença ou um distúrbio. Pode ser que nos vejamos  envolvidos num acidente, numa situação dramática ou num enorme conflito  que tenham sido desencadeados pelo desejo do corpo de dor de que algo de  mal acontecesse. Além disso, podemos acabar praticando uma violência física. 
Ou, quem sabe, tudo isso assuma uma proporção tão grande que não sejamos  mais capazes de viver com nosso eu infeliz. O corpo de dor, é claro, faz parte 
desse falso eu. 
 
 
-  Sempre que somos arrebatados pelo corpo de dor, toda vez que não o  reconhecemos, ele se torna parte do nosso ego. Qualquer elemento com o 
 
qual nos identificamos se transforma no ego. O corpo de dor é uma das coisas  mais  poderosas  com  que  o  ego  pode  se  identificar,  assim  como  o  ego  é  fundamental  para  o  corpo  de  dor,  que  precisa  dele  para  se  renovar.  Essa 
aliança perversa, contudo, costuma desmoronar nos casos em que o corpo de  dor  é  tão  pesado  que  as  estruturas  da  mente  egóica,  em  vez  de  serem  fortalecidas por ele, são desintegradas pelo ataque ininterrupto de sua carga 
energética, da mesma maneira que um aparelho eletrônico pode ser posto em  funcionamento por uma corrente elétrica, mas também destruído por ela se a  voltagem for muito elevada. 
 
 
-  Quem tem um corpo de dor muito forte costuma chegar a um ponto em  que sente que sua vida está se tornando insuportável, em que não consegue 
mais  tolerar  a  dor  nem  situações  difíceis.  Já  houve  quem  expressasse  isso  dizendo com toda a franqueza e simplicidade que estava "cheio de ser infeliz". 
Algumas pessoas podem sentir, como foi meu caso, que não são mais capazes  de  viver  consigo  mesmas.  A  paz  interior  torna-se  então  sua  principal 
prioridade. Sua aguda dor emocional as força a romper a identificação com o  conteúdo da mente e com as estruturas mentais emocionais que dão origem a 
seu eu infeliz e o perpetuam. Assim, elas ficam sabendo que nem sua triste  história nem a emoção que sentem são elas próprias. Compreendem que elas 
são o conhecer, e não o que é conhecido. Em vez de levá-las à inconsciência,  o corpo de dor transforma-se no seu despertador, o fator decisivo que as faz  alcançar o estado de presença. 
 
 
-  No  entanto,    como   estamos  testemunhando   uma   afluência   sem  precedentes de consciência sobre o planeta neste momento, muitas pessoas  não  precisam  mais  chegar  às  profundezas  do  mais  agudo  sofrimento  para  conseguir   romper  a  identificação  com  o  corpo  de  dor.  Sempre  que    elas  percebem que voltaram a cair no terreno do distúrbio, são capazes de escolher 
abandonar a identificação com o pensamento e com a emoção e voltar para o  estado  de  presença.  Elas  abrem  mão  da  resistência,  tornam-se  calmas  e 
atentas, alcançam a unificação com o que existe, dentro e fora de si mesmas. 
 
 
-  O  próximo  passo  na  evolução  humana  não  é  inevitável,  mas,  pela  primeira vez na história do planeta, pode ser uma escolha consciente. Quem  está fazendo essa escolha? Você está. E quem é você? A consciência que se  tornou consciente de si mesma.
 
 
 
 

 
- Alguns corpos de dor reagem a apenas um tipo de estímulo ou situação,  que em geral é aquele que está em consonância com determinada espécie de 
dor emocional sofrida no passado. Por exemplo, se uma criança cresce com  pais cuja renda familiar era a causa de brigas e conflitos freqüentes, ela pode 
absorver o medo deles em relação ao dinheiro e desenvolver um corpo de dor  que  é  incitado  sempre  que  fatores  financeiros  estão  envolvidos.  Quando 
adulta,  essa  pessoa  ficará  aborrecida  ou  furiosa  até  mesmo  em  relação  a  quantias insignificantes. Por trás da contrariedade ou da raiva estão questões 
de sobrevivência e um temor intenso. Tenho visto indivíduos espiritualizados,  isto  é,  relativamente  conscientes,  que  começam  a  gritar,  culpar  e  fazer 
acusações no instante em que pegam o telefone para falar com seu corretor de  ações ou seu contador. Assim como existem advertências em relação à saúde  nas embalagens de cigarro, talvez devesse haver avisos semelhantes em cada  cédula de dinheiro e folha de cheque: "O dinheiro pode acionar o corpo de  dor e causar a inconsciência total." 
 
 
-  Alguém que na infância tenha sido negligenciado ou abandonado por um  dos pais ou por ambos desenvolverá, provavelmente, um corpo de dor que  será   estimulado  por  qualquer  situação  que  lembre,  até  mesmo  de  forma 
 
remota, o sofrimento primordial do abandono. Tanto um amigo que se atrase  cinco  minutos  para  pegar  a  pessoa  no  aeroporto  quanto  um  cônjuge  que  chega tarde em casa podem deflagrar um ataque violento do seu corpo de dor. 
Se  seu  parceiro  ou  cônjuge  o  deixa  ou  morre,  a  dor  emocional  que  esse  indivíduo sente vai muito além da que é natural em circunstâncias como essas.  Pode ser uma angústia intensa, uma depressão duradoura e incapacitante ou  uma raiva obsessiva. 
 
 
-  Uma  mulher  que  tenha  sido  violentada  pelo  próprio  pai  na  infância  talvez perceba que seu corpo de dor se torna facilmente ativo em qualquer 
relacionamento  íntimo  com  um  homem.  Por  outro  lado,  a  emoção  que  constitui seu corpo de dor talvez a faça se sentir atraída por um indivíduo cujo 
corpo de dor seja semelhante ao do seu pai. O corpo de dor dessa mulher  pode ter uma atração magnética por alguém que ele sinta que lhe dará mais do 
mesmo  sofrimento.  E,  algumas  vezes,  ela  pode  confundir  essa  dor  com  a  sensação de estar apaixonada.
 
 
-  Um homem que foi uma criança indesejada e não recebeu amor nem o  mínimo  de  cuidado  e  de  atenção  da  mãe  desenvolve  um  corpo  de  dor  marcado por uma profunda ambivalência - por um lado, apresenta um intenso 
e insatisfeito desejo pelo amor e pela atenção da mãe e, por outro, um forte  rancor  em  relação  a  ela  por  ter  lhe  negado  aquilo  de  que  ele  precisava 
desesperadamente. No caso desse adulto, quase todas as mulheres despertam  a carência do seu corpo de dor - uma forma de sofrimento emocional. Ele a  manifesta por meio de uma compulsão a "conquistar e seduzir" quase toda  mulher que vem a conhecer e, dessa maneira, pretende obter o amor feminino  pelo  qual  seu  corpo  de  dor  anseia.  Esse  homem  se  transforma  quase  num  especialista em sedução. No entanto, assim que um relacionamento se torna  íntimo ou seus avanços são rejeitados, a raiva do seu corpo de dor em relação 
à mãe vem à tona e sabota a relação.
 
 
-  Quando  reconhecemos  nosso  próprio  corpo  de  dor  no  momento  em  que ele surge, também passamos a detectar com rapidez os estímulos mais 
comuns que o colocam em ação, sejam situações, sejam determinadas coisas  que  as   pessoas  fazem  ou  dizem.  No  instante  em   que  esses  estímulos  aparecem,  nós   os   vemos  de  imediato  pelo  que  eles  são  e  entramos  num  intenso  estado  de  alerta.  Em  questão  de  segundos,  percebemos  também  a  reação emocional, que é o surgimento do corpo de dor. Porém, nesse estado 
de presença, não nos identificamos com ele, o que significa que o corpo de  dor não consegue assumir o controle sobre nós e se tornar a voz na nossa  cabeça.  Se  estamos  com  nosso  parceiro  ou  nossa  parceira  nesse  momento, 
 
podemos lhe dizer: "O que você acabou de dizer (ou fazer) despertou meu  corpo  de  dor."  Portanto,  estabeleça  um  acordo  com  seu  companheiro  ou  companheira: sempre que disserem ou fizerem algo que desperte o corpo de 
dor do outro, mencionem isso na hora. Dessa maneira, o corpo de dor não  poderá mais se renovar por intermédio do desentendimento entre vocês e, em  vez de levá-los à inconsciência, os ajudará a ficar inteiramente presentes. 
 
 
-  Toda vez que estamos presentes quando o corpo de dor se manifesta,  uma parte da energia emocional negativa que o constitui se queima, por assim 
dizer, e é transmutada em presença. O que resta dele se retira rapidamente e  espera por uma oportunidade melhor para aparecer, isto é, quando estivermos  menos  conscientes.  Isso  pode  acontecer  sempre  que  saímos  do  estado  de 
presença, talvez depois de tomarmos alguns drinques ou enquanto assistimos  a um filme violento. A mais leve emoção negativa, como uma sensação de  irritação ou ansiedade, também pode servir como uma passagem pela qual o  corpo de dor consegue retornar. Ele precisa da nossa inconsciência, pois não é 
capaz de tolerar a luz da presença.
 
 
 
 

 
- Quem  possui  um  corpo  de  dor  forte  e  ativo  emana  uma  energia 
específica  que  as  outras  pessoas  sentem  como  algo  extremamente  desagradável. Quando elas encontram alguém que tem um corpo de dor desse 
tipo, sua reação imediata é se afastar ou reduzir o contato com ele ao mínimo.  Elas se sentem repelidas por esse campo energético. Outras são tomadas por 
um  impulso  agressivo  e  se  tornam  rudes  ou  atacam  esse  indivíduo  com  palavras e, em alguns casos, até mesmo fisicamente. Isso significa que existe  algo dentro delas que está em consonância com o corpo de dor. O que as leva 
a  reagir  de  modo  tão  intenso  também  se  encontra  em  seu  interior.  É  seu  próprio corpo de dor.
 
 
-  Não  surpreende  que  as  pessoas  com  um  corpo  de  dor  pesado  e  freqüentemente ativo costumem se ver em situações de conflito. Às vezes, é 
claro, elas próprias as causam. Mas outras vezes de fato não fazem nada. O  negativismo  que  transmitem  é  suficiente  para  atrair  hostilidade  e  gerar 
confrontos. Somente um alto grau de presença nos impede de reagir quando  somos provocados por alguém com um corpo de dor tão ativo assim. Quando 
conseguimos permanecer presentes, algumas vezes esse estado de consciência  permite que a outra pessoa deixe de se identificar com seu próprio corpo de 
dor  e,  dessa  forma,  sinta  o  milagre  de  um  repentino  despertar.  Embora  o  despertar possa ter curta duração, o processo terá se iniciado. 
 
 
-  Um   dos  primeiros  casos   desse  tipo  de  despertar  que  testemunhei  aconteceu muitos anos atrás. A campainha da minha porta tocou perto das 11  horas  da  noite.  Pelo  interfone  ouvi  uma  voz  carregada  de  ansiedade.  Era 
minha vizinha Ethel.
 
-  - Preciso conversar com você. É muito importante. Por favor, deixe-me  entrar. 
 
-  Ethel era uma mulher de meia-idade, inteligente e com instrução de nível  superior.  Ela  também  possuía  um  ego  bastante  forte  e  um  corpo  de  dor  pesado.  Conseguira  escapar  da  Alemanha  nazista  quando  era  adolescente, 
porém muitos de seus parentes foram mortos em campos de concentração. 
 
 
 
- Ela se sentou no meu sofá, agitada, as mãos trêmulas. Em seguida, tirou  cartas e documentos da pasta que trazia consigo e espalhou tudo pelo sofá e  pelo   chão.  Na  mesma  hora,  tive  uma  estranha  sensação:  foi  como  se  um 
dimmer tivesse levado a parte interna do meu corpo à potência máxima. Não  havia  nada  a  fazer,  a  não  ser  permanecer  receptivo,  alerta  e  intensamente 
presente. Olhei para ela sem pensar em nada e sem julgar, apenas a ouvi em  silêncio,  sem  fazer  nenhum  comentário  mental.  Uma  torrente  de  palavras 
brotou da sua boca.
 
 
-  Recebi  mais  uma  carta  perturbadora  hoje.  Eles  estão  tramando  uma  vingança contra mim. Você precisa me ajudar. Temos que lutar contra eles 
juntos. Nada deterá os advogados vigaristas que eles têm. Vou perder minha  casa. Estão me ameaçando com o despejo.
 
 
-  Ao que parecia, Ethel se recusara a pagar a taxa de condomínio porque  os  administradores  do  imóvel  em  que  ela  morava  não  haviam  feito  alguns 
consertos necessários. Eles, por sua vez, ameaçavam processá-la.
 
 
-  Ethel   falou  por  uns  10   minutos.  Permaneci  ali  sentado,  olhando  e  escutando.  De  repente,  ela  se  calou  e  olhou  para  a  papelada  ao  seu  redor  como se tivesse acabado de acordar de um sonho. Ficou calma e suave. Todo 
o seu campo energético havia mudado. 
 
- Então olhou para mim e disse: 
 
-  - Isso não tem importância nenhuma, não é mesmo? 
 
-  - Não, não tem - respondi. 
 
-  Após  uns  dois  minutos   de  silêncio,  ela  recolheu  os  papéis  e  saiu.  Na  manhã  seguinte,  me  parou  na   rua  e  ficou  me  olhando  com  um  jeito 
desconfiado. "O que você fez comigo? Ontem eu tive minha primeira boa  noite de sono em anos. Na verdade, dormi como um bebê."
 
 
-  Ela acreditava que eu havia "feito alguma coisa", mas eu não tinha feito  nada.  Talvez  Ethel  devesse  ter   perguntado  o  que  eu  não  havia  feito.   Não  esbocei  nenhuma  reação,  não  confirmei  a    realidade   da  sua  história  nem  alimentei sua mente com mais pensamentos nem seu corpo de dor com mais  emoções. Deixei-a livre para vivenciar seus sentimentos naquele momento, e a  força   de  permitir   está  em   não  interferir,   em  não  fazer   nada.  Estarmos 
presentes  é  sempre  infinitamente   mais  importante  do  que  tudo   o  que  possamos   dizer  ou  fazer,  embora  às  vezes  o  estado  de  presença  suscite  palavras ou ações.
 
 
-  O que aconteceu com ela não chegou a ser uma mudança permanente, e  sim um vislumbre do que é possível, de algo que já estava no seu interior. No 
zen, esse lampejo é chamado de satori. O satori é um momento de presença,  um breve afastamento da voz na nossa cabeça, dos processos do pensamento 
e do seu reflexo sobre o corpo como emoção. É o despertar da dimensão  interior onde antes estavam o emaranhado de pensamentos e o turbilhão das  emoções. 
 
 
-  A  mente  abarrotada  de  pensamentos  não  é  capaz  de  compreender  a  presença e, assim, costuma interpretá-la mal. Ela nos dirá que não estamos 
preocupados,  que  estamos  distantes,  que  não  temos  compaixão,  que  não  estamos nos relacionando. A verdade é que estamos interagindo, porém num 
nível mais profundo do que o dos pensamentos e das emoções. Na realidade,  nesse nível existe um encontro genuíno, uma autêntica união que vai muito 
além do relacionamento. Na calma silenciosa da presença, conseguimos sentir  a nossa essência sem forma e a da outra pessoa como algo único. Sabermos 
que nós e o outro somos um só é o verdadeiro amor, a verdadeira atenção, a  verdadeira compaixão.
 
 
 
 

 
- Nem toda infelicidade se deve ao corpo de dor. Parte dela é infelicidade  nova, criada toda vez que não estamos alinhados com o momento presente,  quando negamos o Agora de uma maneira ou de outra. Se reconhecemos que 
o  momento  presente  é  sempre  o  que  importa  e,  portanto,  é  inevitável,  podemos  lhe  dizer  um  "sim"  interior  descomprometido.  Com   isso,  não  só 
deixaremos  de  criar  mais  infelicidade  como,  graças  ao  desaparecimento  da  resistência interior, seremos fortalecidos pela própria Vida. 
 
 
-  A  infelicidade   do   corpo  de  dor  sempre  assume  uma  proporção  desmedida em relação à sua causa aparente. Em outras palavras, é uma reação  exagerada.  É  assim  que  ela  é  reconhecida,  embora  não  normalmente  pela 
vítima, a pessoa possuída. Alguém com um corpo de dor pesado tem grande  facilidade em encontrar motivos para ficar aborrecido, irado, magoado, triste 
ou temeroso. Coisas quase insignificantes que outra pessoa teria deixado de  lado com um sorriso ou que talvez nem chegasse a notar tornam-se a razão 
aparente de uma intensa infelicidade. Elas não são, é claro, a verdadeira causa  dessa tristeza, apenas agem como um estímulo, pois trazem de volta à vida  emoções  antigas  acumuladas.  Depois,  essas  emoções  vão  para  a  cabeça,  aumentando e energizando as estruturas mentais egóicas.
 
 
-  O corpo de dor e o ego são parentes próximos. Eles precisam um do  outro.  O  fato  ou  a  circunstância  que  desencadeia  a  infelicidade  são 
interpretados  e  suscitam  uma  reação  que  passa  pelo  filtro  de  um  ego  fortemente  emocional.  Isso  significa  que  sua  importância  é  distorcida  ao 
extremo.  A  pessoa  observa  o  presente  através  dos  olhos  do  passado  emocional que existe dentro dela. Em outras palavras, o que ela vê e sente não 
está no acontecimento nem na situação, e sim no que existe em seu próprio  interior. Em alguns casos, até pode estar no acontecimento ou na situação, 
porém  ela  o  exacerba  por  meio  da  sua  reação.  E  essa  atitude  reativa,  essa  amplificação, é o que o corpo de dor quer, é disso que ele se alimenta.
 
 
-  Para alguém possuído por um corpo de dor pesado, é sempre impossível  afastar-se  da  sua  interpretação  distorcida,  da  "história"  emocional.  Quanto 
 
mais emoções negativas estiverem envolvidas nela, mais pesada e impenetrável  ela será. E, assim, não é reconhecida como uma fantasia, mas vista como a  realidade.
 
 
-  Quando  uma  pessoa  se  encontra  completamente  dominada  pela 
agitação dos pensamentos e pelas emoções que os acompanham, distanciar-se  disso é algo improvável porque ela nem sequer sabe que existe uma saída. E,  dessa  maneira,  continua  cativa  dentro  do  seu  próprio  filme  ou  sonho,  prisioneira do seu próprio inferno. Para ela, a realidade é isso, não existe outra  possível. E, no seu modo de ver, sua reação também é a única possível.
 
 
 
 

 
- O corpo de dor das crianças às vezes se manifesta como mau humor ou  introspecção. A criança se retrai, recusa-se a se relacionar e pode ficar sentada 
num canto abraçando um boneco ou chupando o polegar. O corpo de dor  também costuma se revelar por meio de acessos de choro ou de cólera. A 
criança grita, se atira ao chão ou se torna destrutiva. A frustração de um desejo  tem a capacidade de estimular o corpo de dor com a maior facilidade. E, num 
ego em desenvolvimento, a força de um desejo por vezes é intensa. Os pais,  impotentes  e  sem  compreender  o  que  está  se  passando,  podem  assistir  perplexos  enquanto  seu  pequeno   anjo  se  transforma,  de  um  instante  para 
outro,  num  verdadeiro  monstrinho.  "De  onde  será  que  vem  tanta  infelicidade?", eles se perguntam. Numa extensão maior ou menor, é a parte  que a criança detém no corpo de dor coletivo da humanidade que retorna à  própria origem do ego humano. 
 
 
-  Mas a criança pode também já ter absorvido sofrimento do corpo de dor  dos pais, e então estes talvez vejam no filho um reflexo do que existe neles 
próprios. As crianças mais sensíveis são especialmente afetadas pelos corpos  de dor do pai e da mãe. Testemunhar um desentendimento insano entre eles 
lhes  causa  uma  sofrimento  emocional  quase  insuportável.  Assim,   são  essas  crianças  sensíveis  que  tendem  a  se  tornar  adultos  com  um  corpo  de  dor  pesado. As crianças não se deixam enganar por pais que tentam ocultar seu  corpo  de  dor,  dizendo  um  para   o  outro:  "Não  devemos  brigar  na  frente  delas." Isso significa que, enquanto eles mantêm uma conversa educada, o lar 
vai  sendo  tomado  pela  energia  negativa.  Os  corpos  de  dor  reprimidos  são  extremamente  tóxicos,   mais  ainda  do  que   os  que  se  manifestam  com  franqueza, e essa toxicidade física é absorvida pelas crianças e contribui para o 
desenvolvimento do seu próprio corpo de dor.
 
 
-  Algumas crianças aprendem subliminarmente sobre o ego e o corpo de  dor apenas por viverem com pais muito inconscientes. Uma mulher cujos pais 
tinham ambos fortes egos e corpos de dor pesados me disse que, quando eles  gritavam um com o outro, ela olhava na sua direção e, embora os amasse,  dizia para si menu: "lestas pessoas são doidas. Como é que eu vim parar aqui?" 
Já havia nela a consciência da insanidade de se viver dessa maneira. Graças a  essa consciência, a quantidade de dor que ela absorveu dos pais foi reduzida. 
 
 
-  Os pais costumam pensar em como agir em relação ao corpo de dor das  suas crianças. Mas a pergunta básica obviamente é: será que eles conseguem 
lidar com seu próprio corpo de dor? Será que o reconhecem em si mesmos? 
 
Será que são capazes de se manter presentes o bastante quando ele entra em  atividade  para  que  possam  estar  conscientes  da  emoção  no  nível  do  sentimento antes que ela tenha uma chance de se tornar pensamento e depois 
uma "pessoa infeliz"? 
 
 
-  Quando o corpo de dor de uma criança está se manifestando por meio  de um ataque, não há muita coisa que os pais possam fazer, exceto se manter 
no  estado  de  presença  para  que  não  sejam  estimulados   a  ter  uma   reação  emocional. O corpo de dor da criança se alimentaria dela. Às vezes, os corpos  de dor são extremamente dramáticos. Mas os pais não precisam "embarcar"  nesse descontrole. Não devem levá-lo muito a sério. Se o corpo de dor tiver  sido  despertado  pela  frustração  de  um  desejo,  eles  não  têm  agora  que  se 
render às suas exigências. Caso contrário, a criança aprenderá a seguinte lição:  "Quanto mais infeliz eu me tornar, maior será a probabilidade de conseguir o  que quero." Essa é uma receita para que ela apresente distúrbios no futuro.  Seu corpo de dor ficará decepcionado com a falta de reação do pai e da mãe e 
pode atuar por mais algum tempo antes de se acalmar. Ao contrário do que  ocorre  com  os  adultos,  no  caso  das  crianças,  felizmente,  esses  episódios  costumam ser mais breves.
 
 
-  Depois que a criança se acalmar ou talvez no dia seguinte, os pais podem  conversar com ela sobre o que ocorreu. Mas não devem contar sobre o corpo 
de dor. Em vez disso, é melhor que lhe façam perguntas. Por exemplo: "O  que  deu  em  você  ontem  quando  não  conseguia  parar  de  gritar?  Você  se 
lembra?  Como  se  sentiu?  Foi  uma  sensação  boa?  Aquela  coisa  que   lhe  aconteceu, será que tem um nome? Não? Caso tivesse um nome, qual seria?  Se  você   pudesse  vê-la,  ela   se  pareceria  com   o  quê?  Você  pode  fazer  um  desenho    dela?  O   que  houve  com  ela  depois  que  foi   embora?  Foi   dormir? 
Você acha que ela pode voltar?"
 
 
-  Essas são apenas algumas sugestões de perguntas. Todas elas se destinam  a despertar na criança sua capacidade de testemunhar, isto é, a presença. E 
irão ajudá-la a deixar de se identificar com o corpo de dor. Na próxima vez  em que ela for tomada por um ataque, eles poderão dizer: "Aquela coisa está  de volta, não é?" O ideal é que eles usem as mesmas palavras empregadas pela 
criança na primeira ocasião em que falarem sobre o assunto. A atenção dela  deve  ser  dirigida  para  como  ela  sente  aquilo.  Os  pais  têm  que  demonstrar  interesse ou curiosidade em vez de adotar uma atitude crítica e condenatória.
 
 
-  É improvável que isso venha a impedir que o corpo de dor continue seu  curso, e pode parecer que a criança não está nem mesmo escutando os pais.  Mesmo assim, alguma consciência permanecerá em segundo plano durante o 
 
período  em  que  o  corpo  de  dor  estiver  em  atividade.  Depois  de  alguns  episódios, a consciência estará mais forte e o corpo de dor terá enfraquecido.  É dessa forma que a criança vai intensificando seu estado de presença. Um 
dia, talvez seja ela que alerte o pai e a mãe de que eles se deixaram dominar  pelo corpo de dor.
 
 
 
 

 
- Sentei-me  e  pedi  uma  refeição.  Havia  poucos  clientes  no  restaurante  além de mim. Próximo à minha mesa, um homem de meia-idade numa cadeira  de rodas acabava de jantar. Ele me dirigiu o olhar uma vez - foi rápido, mas 
intenso. Alguns minutos se passaram. De repente, ele ficou inquieto, agitado,  seu corpo começou a se contrair. O garçom aproximou-se para retirar o prato.  O homem começou a discutir com ele.
 
-  - A comida não estava boa. Estava horrível. 
 
-  Então por que o senhor comeu? - perguntou o garçom. 
 
 
- Bastou essa  frase  para  deixá-lo  furioso.  Ele  começou  a  gritar,  tornou-se  ofensivo.  Palavrões saíam da sua boca. Um rancor intenso, violento, encheu o ambiente. 
Era possível sentir aquela energia entrando no corpo das pessoas à procura de  algo  a  que  pudesse  se   fixar.  Agora  o   homem  esbravejava  também  com   os  outros   clientes.  No  entanto,  por  uma  estranha  razão,  me  ignorava  completamente  enquanto  eu  permanecia  sentado  num  intenso  estado  de 
presença.   Desconfiei  de  que  o  corpo  de  dor  humano  universal  havia  retornado para me dizer: "Você pensou que tinha me derrotado. Veja, ainda  estou aqui." Também considerei a possibilidade de que o campo energético  liberado durante a sessão com aquela mulher me seguira até o restaurante e se  prendera  à  única  pessoa   ali  que  apresentava  uma  freqüência  vibracional 
compatível com a sua, isto é, um corpo de dor pesado. 
 
 
-  O gerente abriu a porta do restaurante: "Por favor, retire-se, retire-se." O  homem  saiu  zunindo  na  sua  cadeira  de  rodas  elétrica,  deixando  todos 
perplexos. Um minuto depois ele voltou. Seu corpo de dor ainda estava ativo.  Precisava de mais. Ele escancarou a porta com a cadeira de rodas e começou a 
gritar obscenidades. Uma garçonete tentou impedi-lo de entrar. Ele acelerou a  cadeira e imprensou a moça contra a parede. Alguns clientes acorreram para  tentar puxá-lo dali. Gritos, berros, pandemônio. Um pouco depois chegou um  policial. O homem sossegou, pediram-lhe que saísse e não voltasse mais. Por  sorte,  a  garçonete  não  se  feriu,  sofreu  apenas  alguns  arranhões  na  perna. 
Quando  tudo  acabou,  o  gerente  aproximou-se  da  minha  mesa  e  me  perguntou, meio na brincadeira, mas talvez sentindo intuitivamente que havia 
alguma ligação: "Foi você que provocou tudo isso?"
 
 
 
 

 
- Uma mulher na faixa dos 30 anos de idade veio se consultar comigo.  Enquanto ela me cumprimentava, senti o sofrimento por trás do seu sorriso  educado  e  superficial.  Ela  começou  contando  a  história  da  sua  vida  e,  um 
 
segundo  depois,  seu  sorriso  se  tornou  uma  expressão  de  dor.  Em  seguida,  começou a soluçar de maneira incontrolável. Disse que se sentia solitária e  insatisfeita. Acalentava muita raiva e tristeza. Quando criança, fora vítima de 
maus  tratos  infligidos  por  um  pai  violento.,  Logo  constatei  que  sua  infelicidade não era causada pelas circunstâncias da sua vida atual, e sim por 
um  corpo  de  dor  muito  pesado  que  se  tornara  o  filtro  através  do  qual  ela  analisava sua situação de vida. Essa mulher ainda não era capaz de detectar a 
ligação entre a dor emocional e seus pensamentos e estava identificada com  ambos. Ela não conseguia ver que continuava aumentando o corpo de dor  com  seus  pensamentos.  Em  outras  palavras,  vivia  com  o  fardo  de  um  eu  profundamente infeliz. De algum modo, contudo, deve ter compreendido que 
a origem daquilo estava no seu próprio interior, que ela era uma carga para si  mesma. E estava pronta para despertar - por esse motivo decidira ir àquela 
consulta.
 
 
-  Direcionei o foco da sua atenção para o que estava se passando dentro  do seu próprio corpo e lhe pedi que sentisse a emoção diretamente, que não 
usasse o filtro dos seus pensamentos infelizes, da sua história triste. Ela disse  que esperava que eu lhe mostrasse o caminho para sair da infelicidade, e não  para  entrar  nela.  Porém,  mesmo  relutante,  atendeu  minha  solicitação.  As 
lágrimas rolavam por sua face, todo o seu corpo tremia. 
 
-  - Neste momento, o que você sente é isto - eu disse. - E não há nada que  você possa fazer nesse sentido. Mas, em vez de querer que este momento seja  diferente  do  que  ele  é,   o  que  lhe  causa  ainda  mais  sofrimento,  consegue  admitir  completamente  que  isto  é   o  que  você  está   sentindo  neste  exato  instante?
 
 
-  Ela ficou calada por alguns segundos e depois respondeu com raiva: 
 
-  - Não, não quero aceitar isso.
 
-  - Quem está falando? - perguntei. - Você ou sua infelicidade?
 
-  Consegue  ver que sua infelicidade com o fato de ser uma pessoa triste é apenas outra 
camada de infelicidade? 
 Mais uma vez ela se manteve calada. 
 
-  Não  estou  lhe  dizendo  para  fazer  alguma  coisa.  Tudo  o  que  estou  pedindo é que descubra se tem condições de permitir que esses sentimentos 
permaneçam com você. Em outras palavras, e elas podem parecer estranhas:  se você não se importar em ser infeliz, o que acontecerá com a infelicidade? 
Não quer descobrir? 
 
 Por um instante ela pareceu confusa e ficou sentada ali em silêncio por  um minuto mais ou menos. De repente, notei uma mudança significativa no 
seu campo energético. Depois respondeu: 
 - Isto é esquisito. Ainda estou infeliz, mas agora existe um espaço em  volta da minha infelicidade. Ela parece ter menos importância. 
 Essa  foi  a  primeira  vez  que  ouvi  alguém  descrever  a  situação  desta  maneira:  existe  um  espaço  ao  redor  da   minha  infelicidade.  Esse  espaço,  é  claro, é criado quando há aceitação interior de qualquer coisa que estejamos  sentindo no momento. 
 Não  falei  muito  depois  disso  para  permitir  que  ela  vivenciasse  a  experiência. Mais tarde, essa mulher compreendeu o que havia acontecido. No 
momento em que ela interrompeu a identificação com o sentimento, isto é,  com a antiga emoção dolorosa que acalentava, no instante em que lhe dirigiu  sua atenção sem tentar resistir, essa emoção deixou de ter a capacidade de  controlar seu pensamento e, assim, de se misturar a uma história construída 
mentalmente  chamada  "Como  Sou  Infeliz".  Outra  dimensão  havia  se  manifestado na sua vida e transcendia seu passado - a dimensão da presença.  Como ninguém pode ser infeliz sem uma história triste, aquilo representava o 
término daquele sofrimento. E também o começo do fim do seu corpo de  dor. A emoção em si não é infelicidade. Apenas a emoção associada a uma 
história triste é infelicidade.
 
 
-  Depois de encerrada a sessão, foi gratificante saber que eu tinha acabado  de  testemunhar  o  surgimento  da  presença  em  alguém.  A  própria  razão  da  nossa existência na forma humana é trazer essa dimensão de consciência para 
o  mundo.  Eu  também  assistira  a  uma  diminuição  do  corpo  de  dor,  e  não  lutando contra ele, mas levando-lhe a luz da consciência.
 
 
-  Minutos  depois  que  essa  mulher  saiu,  recebi  a  visita  de  uma  amiga.  Assim que ela entrou na sala, perguntou: "O que aconteceu aqui? A energia 
parece pesada, sombria. Estou até me sentindo um pouco mal. Você precisa  abrir as janelas, acender um incenso."
 
 
-  Expliquei  que  eu  tinha  acabado  de  testemunhar   uma  im-portante  liberação  de  energia   numa  pessoa  que  tinha  o  corpo  de  dor  muito  denso.  Portanto, aquilo que ela estava sentindo devia ser o resto da energia que fora  emanada durante a sessão. Minha amiga, porém, recusou-se a ficar e escutar.  Tudo o que ela queria era sair dali o mais rápido possível. 
 
 
-  Abri as janelas e saí para jantar num restaurante indiano nas redondezas.  O  que  aconteceu  enquanto   permaneci  ali  foi  uma  confirmação  adicional  e  muito  clara  do  que  eu  já  sabia:  todos  os  corpos  de  dor  humanos,  que 
 
aparentemente são individuais, estão interligados em algum nível. No entanto,  a forma que essa ratificação em particular assumiu foi uma espécie de choque.
 
 
 
 

- O começo da nossa libertação do corpo de dor está primeiramente na  compreensão de que o temos. Depois, e mais importante, na nossa capacidade  de permanecer presentes o bastante, isto é, atentos o suficiente, para percebê-  lo como um pesado influxo de emoções negativas quando entra em atividade.  No instante em que é reconhecido, ele não consegue mais se passar por nós e  viver e se renovar por nosso intermédio.
 
 
-  É nossa presença consciente que rompe a identificação com o corpo de  dor. Quando não nos identificamos mais com ele, o corpo de dor torna-se 
incapaz de controlar nossos pensamentos e, assim, não consegue se renovar,  pois  deixa  de  se  alimentar  deles.  Na  maioria  dos  casos,  ele  não  se  dissipa  imediatamente.  No  entanto,  assim  que  desfazemos  sua  ligação  com  nosso 
pensamento,  ele  começa  a  perder  energia.  O  pensamento  pára  de  ser  embotado pela emoção, enquanto nossas percepções do momento não são  mais distorcidas pelo passado. A energia que estava presa no corpo de dor  muda sua freqüência vibracional e é convertida em presença. Dessa maneira, o 
corpo de dor se torna combustível para a consciência. E por isso que muitas  das pessoas mais sábias e iluminadas do planeta, entre homens e mulheres, já  tiveram um corpo de dor bastante pesado. 
 
 
 
- Independentemente   do  que  dizemos  ou  fazemos  e  da   face  que  mostramos  ao  mundo,  nosso  estado  "mental-emocional"  não  pode   ser  dissimulado. Todo ser humano emana um campo energético que corresponde 
ao seu estado interior, e a maioria das pessoas é capaz de senti-lo, ainda que  essa emanação de energia só seja captada de modo subliminar. Isso significa 
que,  embora  elas  não  saibam  que  percebem  esse  campo  energético,  ele  determina em grande medida como elas se sentem em relação a um indivíduo 
e  reagem  a  ele.  Há  quem   tenha  uma  consciência  mais  clara  do  campo  energético   já  no  primeiro  contato  com  alguém,  até  mesmo   antes  que 
quaisquer  palavras  sejam  ditas.   Um  pouco  depois,  porém,  as  palavras  dominam o relacionamento e, com elas, vêm os papéis que quase todos nós  representamos. Com isso, a atenção se desloca para o âmbito da mente, e a  capacidade  de  sentir  o  campo  energético  do  outro   se  reduz  de  modo 
significativo. Mesmo assim, ele ainda é percebido no nível inconsciente. 
 
 
-  Quando  compreendemos  que  os  corpos  de  dor  buscam 
inconscientemente  mais  sofrimento,  isto  é,  que  eles  querem  que  algo  ruim 
 
aconteça, passamos a entender que muitos acidentes de trânsito são causados  por  motoristas  cujo  corpo  de  dor  estava  em  atividade  naquele  momento. 
Sempre  que  dois  motoristas  com  corpos  de  dor  ativos  chegam  a  um  cruzamento ao mesmo tempo, a probabilidade de haver um acidente é bem 
maior   do  que  em  circunstâncias   normais.   De   forma  inconsciente,  ambos  desejam  a   colisão.   O  papel  dos  corpos  de  dor  nesse  tipo  de  ocorrência   se  torna  mais  óbvio  no  fenômeno  chamado    "briga  de   trânsito",  quando  os  motoristas  se  tornam   fisicamente  violentos,  em  geral  por  causa  de  uma  questão banal, como o fato de alguém dirigir muito devagar à sua frente. 
 
 
 
- Muitos atos de violência são cometidos por pessoas "normais" que se  transformam  temporariamente  em  seres  desequilibrados.  Em  julgamentos 
criminais em todas as partes do mundo, advogados de defesa costumam dizer  frases  como  "Ele  estava  completamente  fora  de  si",  enquanto  os  acusados  afirmam algo do tipo "Não sei o que deu em mim". Até onde eu sei, nenhum 
advogado de defesa forneceu a seguinte explicação ao juiz: "Este é um caso de  responsabilidade reduzida. Meu cliente estava com o corpo de dor ativo, por 
isso não sabia o que estava fazendo. Na verdade, não foi ele que fez aquilo, e  sim seu corpo de dor." Talvez não esteja longe o dia em que coisas assim  comecem a ser ouvidas nos tribunais. 
 
 
-  Será que isso significa que as pessoas não são responsáveis por seus atos  quando estão possuídas pelo corpo de dor? Minha resposta é: como podem  ser? Como é possível alguém responder por suas atitudes se está inconsciente, 
se  não  sabe  o  que  está  fazendo?  No  entanto,  no  quadro  mais  amplo  das  coisas, os seres humanos devem evoluir como seres conscientes, e os que não 
seguem esse caminho sofrem as conseqüências da sua inconsciência. Eles não  estão alinhados com o impulso evolucionário do universo.
 
 
-  E  até   mesmo  essa  afirmação  só  é  verdadeira  em  parte.  De  uma  perspectiva  superior,  é  impossível  não  estar  alinhado   com  a  evolução  do 
universo. Até mesmo a inconsciência humana e a dor que ela produz fazem  parte  desse  progresso.  Quando  não  conseguimos  mais  suportar  o  ciclo 
interminável de sofrimento, começamos a despertar. Portanto, o corpo de dor  também ocupa um lugar necessário no quadro mais amplo.