terça-feira, 31 de dezembro de 2013

CONECTE-SE COM O SEU CORPO INTERIOR





Ensinamentos de Eckhart  Tolle
CONECTE-SE COM O SEU CORPO INTERIOR
Vamos fazer uma experiência agora. Talvez ajude fechar os olhos para este exercício. Depois, quando o "estar dentro do corpo" se tornar algo fácil e natural, isso não será mais necessário.
DIRIJA A ATENÇÃO para dentro do seu corpo. Sinta-o lá no fundo. Está vivo? Há vida nas suas mãos, braços, pernas e pés, em seu abdómen, no seu peito?
Você consegue sentir o campo de energia sutil impregnando todo o seu corpo e fazendo palpitar cada órgão e cada célula? Percebe o que está acontecendo em todas as partes do corpo ao mesmo tempo, como se fosse um só campo de energia?
Mantenha o foco, por uns momentos, sobre a sensação que passa pelo seu corpo interior. Não comece a pensar sobre ela. Sinta-a.
Quanto mais atenção você der à sensação, mais clara e forte ela ficará. É como se cada célula se tornasse mais viva e, se você tiver uma forte percepção visual, talvez obtenha uma imagem do seu corpo ficando luminoso. Embora uma ima­gem assim possa ajudá-lo temporariamente, preste mais atenção ao que você está sentindo do que a qualquer imagem que possa surgir. Uma imagem, não importa o quanto seja bela ou poderosa, já tem uma forma definida e, por isso, deixa menos espaço para penetrar mais fundo.



 
                     UM MERGULHO PROFUNDO NO CORPO
Para ir mais fundo dentro do seu corpo, faça uma meditação. Não vai levar muito tempo, só 10 a 15 minutos.
PROVIDENCIE PARA QUE não haja distrações externas, como telefonemas ou pessoas que possam interromper. Sente-se em uma cadeira, mas não encoste. Mantenha a coluna ereta. Isso ajuda a ficar alerta. Você também pode escolher uma posição favorita para meditar.
Certifique-se de que o seu corpo está relaxado. Feche os olhos. Respire profundamente algumas vezes. Sinta a respi­ração na parte inferior do abdómen. Observe como ele se expande e se contrai levemente, a cada entrada e saída de ar.
Depois tome consciência de todo o campo de energia inte­rior do seu corpo. Não pense a respeito, apenas sinta-o. Ao fazer isso, você retira a consciência do campo da mente. Se ajudar, visualize a "luz" que descrevi anteriormente.
Quando você não encontrar mais obstáculos para sentir o corpo interior como um campp único de energia, descarte, se possível, qualquer imagem visual e se concentre apenas na sensação. Se possível, descarte também qualquer imagem mental que você ainda tenha do corpo físico. O que sobrou é uma abrangente sensação de presença ou "existência" e uma percepção de um corpo interior sem fronteiras.
A seguir, concentre sua atenção mais fundo nessa sensação. Forme uma unidade com ela. Junte-se de tal modo ao campo de energia que você não mais perceba a dualidade entre o observador e o observado, entre você e seu corpo. A separação entre o interior e o exterior também se dissolve nesse momen­to, e, assim, não existe mais um corpo interior. Ao entrar pro­fundamente no corpo, você transcendeu o corpo.
Permaneça nessa região do puro Ser pelo tempo que você se sentir bem. Depois retome a consciência do corpo físico, da sua respiração, dos sentidos, e abra os olhos. Observe o que está à sua volta por alguns minutos, em um estado meditativo, isto é, sem dar nome a nada, e continue a sentir o corpo interior enquanto faz isso.
Ter acesso a essa região sem forma traz uma liberdade verda­deira. Ela nos liberta da escravidão da forma e da identificação com a forma. Podemos chamá-la de Não-Manifesto, a Fonte invi­sível de todas as coisas, o Ser que está presente em todos os seres. É uma região de profunda serenidade e paz, mas também de alegria e vida intensas. Sempre que estamos presentes, nos tor­namos, de um certo modo, "transparentes" à luz, passamos a ser a consciência pura que emana dessa Fonte. Percebemos também que a luz não está separada de quem somos, mas constitui a nossa verdadeira essência.
Só quando a nossa consciência se volta para o exterior é que a mente e o mundo passam a existir. Quando se dirige para o inte­rior, ela percebe a sua própria Fonte e regressa ao Não-Manifesto.
Assim, quando a nossa consciência retorna ao mundo manifesto é que recuperamos a identidade da forma, que tinha sido abandonada temporariamente. Passamos a ter um nome, um passado, uma situação de vida, um futuro. Mas, em um aspecto particular, já não somos mais os mesmos de antes, porque vislumbramos uma realidade em nosso interior que não é "deste mundo", embora não seja separada dele, do mesmo modo que não é separada de você. Adote, daqui para a frente, a seguinte prática espiritual:
AO caminhar PELA vida, não dê 100 por cento de atenção ao mundo exterior e à sua mente. Deixe alguma coisa no interior.
Sinta o corpo interior, mesmo quando estiver fazendo algu­ma atividade de rotina, principalmente nos relacionamentos ou quando em contato com a natureza. Sinta a serenidade bem lá no fundo. Mantenha a porta aberta.
É possível ficar consciente do Não-Manifesto em todas as ocasiões. Você sentirá uma profunda sensação de paz em algum lugar lá no fundo, uma serenidade que nunca abandonará você, não importa o que aconteça lá fora. Você passa a ser a ponte entre o Não-Manifesto e o manifesto, entre Deus e o mundo.
Esse é o estado de conexão com a Fonte. É o que chama­mos de iluminação.

FINQUE RAÍZES PROFUNDAS NO SEU EU INTERIOR
A negatividade deixa de nos afetar e tendemos a atrair novas circuns­tâncias que refletem essa alta frequência.
Quanto mais concentramos a atenção no corpo, mais nos fi­xamos no Agora. Não nos perdemos no mundo exterior nem na mente. Pensamentos e emoções, medos e desejos podem até estar presentes, mas não vão mais nos dominar.
VERIFIQUE ONDE ESTÁ a sua atenção neste momento. Ou você está me ouvindo ou está lendo minhas palavras em um livro. Aqui está o foco da sua atenção. Você também está percebendo o que está ao redor, as outras pessoas, etc. Além disso, pode haver alguma atividade mental em volta do que você está ouvindo ou lendo, algum comentário mental, embora não haja necessidade de nada disso absorver toda a sua atenção.
Verifique se você consegue estar em contato com o seu corpo interior ao mesmo tempo. Mantenha parte da sua atenção no interior. Não permita que ela se disperse. Sinta todo o seu corpo, lá no fundo, como um só campo de energia. E quase como se você estivesse ouvindo ou lendo com todo o seu corpo. Pratique nos próximos dias e semanas.
Não desvie toda a sua atenção da mente nem do mundo exterior. Procure, por todos os meios, se concentrar naquilo que você está fazendo, mas sinta o corpo interior ao mesmo tempo, sempre que possível. Tenha as raízes fincadas dentro de você. Observe, então, como isso altera o seu estado de consciência e a qualidade do que você está fazendo.
Não aceite ou rejeite simplesmente essas minhas palavras. Pratique-as.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

VIVENCIANDO A CONSCIÊNCIA PURA

        Ensinamentos de Eckhart Tolle

VIVENCIANDO A CONSCIÊNCIA PURA


Sempre que observamos a mente, livramos a consciência das formas da mente, criando aquilo que chamamos o observador ou a testemunha. Conseqüentemente, o observador - que é a pura cons­ciência além da forma - se torna mais forte e as formações mentais se tornam mais fracas.



Quando falamos sobre observar a mente, estamos personalizan­do um fato de verdadeiro significado cósmico porque, através de você, a consciência está despertando do seu sonho de identificação com a forma e se retirando da forma. Isso é o prenúncio - e tam­bém parte - de um acontecimento que provavelmente ainda está num futuro distante, no que diz respeito ao tempo cronológico. Esse acontecimento é conhecido como o fim do mundo.
PARA FICARMOS PRESENTES no dia-a-dia, ajuda muito estar­mos profundamente enraizados dentro de nós. Do contrário, a mente, que tem um impulso inacreditável, nos arrastará com ela, tal como um rio caudaloso.
Significa ocupar o corpo completamente. Ter sempre a aten­ção concentrada no campo energético interipr do corpo. Sentir o corpo bem lá no fundo, como se diz. A consciência do corpo nos mantém presentes. Ela nos dá uma base firme no Agora.
O corpo que podemos ver e tocar não consegue nos conduzir para dentro do Ser. Mas esse corpo visível e palpável é só uma casca, ou melhor, uma percepção limitada e distorcida de uma rea­lidade mais profunda. Em nosso estado natural de conexão com o Ser, essa realidade mais profunda pode ser sentida, a cada momen­to, como o corpo interior invisível, que é a presença viva dentro de nós. Portanto, "habitar o corpo" é sentir o corpo bem lá no fundo, de modo a sentir a vida dentro dele e, assim, perceber que somos algo mais além da forma exterior.
Enquanto sua mente absorver toda a sua atenção, você não con­seguirá estar em conexão com o Ser. Quando isso acontece - e acontece sem parar para a maioria das pessoas -, você não está em seu corpo. A mente absorve toda a sua consciência e a transforma em matéria mental. Você não consegue parar de pensar.



Para se tornar consciente do Ser, você precisa ter de volta a cons­ciência aprisionada pela mente. Essa é uma das tarefas mais essen­ciais na sua jornada espiritual. Ela vai libertar grandes porções de consciência que antes estavam presas nos pensamentos inúteis e compulsivos. Uma forma muito eficaz de realizar essa tarefa é desviar o foco da atenção do pensamento e dirigi-lo para o interior do seu corpo, onde o Ser pode ser percebido, numa primeira etapa, como o campo de energia invisível que dá vida àquilo que você entende como o seu corpo físico.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A NOVA TERRA NÃO É UMA UTOPIA


  • Será que a noção de uma nova Terra não passa de mais uma visão utópica? De maneira nenhuma. Todas as utopias têm isto em comum: a projeção mental de um tempo futuro em que tudo ficará bem, seremos salvos, haverá paz e harmonia e nossos problemas terão terminado. Houve muitas expectativas dessa natureza. Algumas delas terminaram em decepção; outras, em desastre.

  •  No centro de todas as visões utópicas se encontra uma das principais disfunções estruturais da velha consciência: buscar a salvação no futuro. A única existência que o futuro tem de verdade é como uma forma de pensamento. Portanto, nesse caso, estamos procurando inconscientemente a salvação na nossa própria mente. Assim, permanecemos presos à forma, e ela é o ego.

  •  "Vi, então, um novo Céu e uma nova Terra",5 escreve o profeta bíblico. O fundamento para uma nova Terra é um novo Céu - a consciência desperta. A Terra - realidade externa - é apenas seu próprio reflexo exterior. O surgimento de um novo Céu e, por implicação, de uma nova Terra não é um acontecimento futuro que irá nos libertar. Nada nos libertará porque apenas o momento presente pode fazer isso. Essa percepção é o despertar. Como evento futuro ele não tem significado porque é a própria manifestação da presença. Assim, o novo Céu, a consciência desperta, não é um estado futuro a ser atingido. Um novo Céu e uma nova Terra estão surgindo dentro de nós neste momento e, se isso ainda não estiver acontecendo, é porque eles não passam de um pensamento na nossa cabeça e, portanto, não se estabelecerão mesmo. O que disse Jesus aos seus discípulos? "O reino de Deus já está dentro de vós."6

  •  No Sermão da Montanha, Jesus faz uma predição que até hoje é entendida por poucos. Ele diz: "Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra."7 Nas versões modernas da Bíblia, a palavra "mansos" é traduzida como "humildes". Quem são os mansos, ou os humildes, e o que significa o fato de que eles possuirão a Terra?

  •  Os mansos são os que não têm ego. Aqueles que despertaram para sua verdadeira natureza essencial como consciência e a reconhecem em todos os "outros", em todas as formas de vida. Vivem no estado de rendição e, assim, sentem que são um só com o todo e com a Origem. Eles incorporam a consciência desperta que está mudando todos os aspectos da vida no nosso planeta, incluindo a natureza, porque a vida na Terra é inseparável da consciência humana que percebe e interage com ela. Esse é o sentido de "os mansos possuirão Terra".

  •  Uma nova espécie está surgindo no planeta. Ela está surgindo agora, e você faz parte dela!

Os doadores de frequência


  • O movimento de saída que se direciona à forma não se expressa com igual intensidade em todos nós. Algumas pessoas têm uma forte ânsia de construir, criar, envolver-se, conquistar, exercer uma influência sobre o mundo. Se elas estiverem inconscientes, o ego irá, é claro, controlar e usar a energia do ciclo de saída para seus próprios interesses. Isso, porém, reduz de modo significativo o fluxo de energia criativa disponível para elas. Assim, cada vez mais, dependerão do "esforço" para conseguir o que querem. Caso estejam conscientes, esses indivíduos em que o movimento de saída é forte serão altamente criativos. Outros, porém, levarão uma existência aparentemente discreta e passiva depois que a expansão natural que acompanha o crescimento tiver seguido seu curso. 

  •  Essas pessoas são mais introvertidas por natureza. No seu caso, o movimento de saída que se direciona à forma é mínimo. Elas preferem voltar para casa a sair. Não alimentam nenhum desejo de mudar o mundo nem de se envolver nessa questão. Se têm alguma ambição, essa normalmente se reduz a encontrar uma ocupação que lhes proporcione certo grau de independência. Algumas delas acham difícil se encaixar neste mundo. Outras têm sorte o bastante para encontrar um nicho protetor onde conseguem levar a vida com relativa segurança, realizando um trabalho que lhes provê um rendimento regular ou administrando um pequeno negócio próprio. Há as que se sentem atraídas a viver numa comunidade espiritual ou num mosteiro. Outras podem se tornar desajustadas e viver à margem da sociedade por acharem que têm pouco a ver com ela. Existem as que se voltam para as drogas porque acreditam que viver neste mundo é doloroso demais. Por fim, há as que acabam se tornando agentes de cura ou mestres espirituais, isto é, mestres do Ser.

  •  Em épocas passadas, talvez essas pessoas fossem chamadas de contemplativas. Na civilização contemporânea parece não existir um lugar para elas. Na nova Terra que está surgindo, seu papel, contudo, é tão importante quanto o dos criadores, realizadores e reconstrutores. Sua função é portar a freqüência da nova consciência neste planeta. Eu as chamo de doadores de freqüência. Elas estão aqui para gerar a consciência por meio de atividades da vida diária, das suas interações com os outros e do fato de "simplesmente existirem". 

  •  Dessa maneira, elas dotam de um profundo sentido aquilo que parece insignificante. Sua tarefa é trazer o amplo silêncio para este mundo, mantendo-se totalmente presentes em qualquer coisa que façam. Por causa dessa consciência há qualidade em suas realizações, até mesmo na mais simples tarefa. Seu propósito é fazer tudo de maneira sagrada. Como cada indivíduo é uma parte integrante da consciência coletiva humana, elas afetam o mundo com muito mais intensidade do que mostra a superfície de suas vidas.

O entusiasmo


  • Enfim, existe outro modo de manifestação criativa que pode ocorrer àqueles que permanecem coerentes com seu propósito interior de despertar. De repente, um dia, eles ficam sabendo qual é seu propósito exterior. Têm uma grande visão, uma meta, e, dali por diante, trabalham no sentido de implementá-la. Em geral, ela costuma estar ligada de alguma maneira a algo que eles apreciam e que já estão realizando numa escala menor. É nesse ponto que entra a terceira modalidade de ação desperta: o entusiasmo.

  •  O entusiasmo mostra que existe um profundo prazer no que fazemos e o elemento adicional de uma meta ou de uma visão em nome da qual trabalhamos. Quando acrescentamos uma meta ao prazer proporcionado por nossa ação, o campo energético ou freqüência vibracional muda. Certo grau do que podemos chamar de tensão estrutural é agora acrescentado ao prazer e, assim, ele se transforma em entusiasmo. No ponto máximo da atividade criativa alimentada por esse sentimento haverá enorme intensidade e energia por trás do que executamos. Vamos nos sentir como uma flecha em direção ao alvo - e sentindo prazer no trajeto. 

  •  Aos olhos de um espectador pode parecer que estamos sob estresse contínuo, porém a intensidade do entusiasmo não tem nada a ver com tensão. Só nos estressamos quando nossa intenção de atingir a meta é maior do que a vontade que temos de fazer o que estamos realizando. Nesse caso, o equilíbrio entre prazer e tensão estrutural se perde, e esta última vence. O estresse costuma ser um sinal de que o ego voltou e, assim, nos privamos da energia criativa do universo. Em seu lugar restam apenas a força e a tensão do desejo egóico. Com isso, precisamos lutar e "trabalhar duro" para alcançar o objetivo. A tensão diminui tanto a qualidade quanto a eficácia do que executamos sob sua influência. Também existe uma forte ligação entre ela e as emoções negativas, como ansiedade e raiva. O estresse é tóxico para o organismo e vem sendo reconhecido como uma das principais causas das chamadas doenças degenerativas, entre as quais o câncer e os males cardíacos.

  •  Ao contrário da tensão, o entusiasmo tem uma elevada freqüência energética e assim vibra em consonância com o poder criativo do universo. É por isso que Ralph Waldo Emerson disse: "Nada grandioso jamais foi alcançado sem entusiasmo:"2 A palavra "entusiasmo" deriva do grego antigo - en e theos, que significa "em Deus". O termo correlato enthousiazein corresponde a "estar possuído por um deus". Com o entusiasmo, descobrimos que não precisamos fazer tudo sozinhos. Na verdade, não existe nada importante que possamos executar sozinhos. O fluir constante do entusiasmo produz uma onda de energia criativa, e tudo o que temos a fazer então é aproveitá-la. 

  •  O entusiasmo confere um imenso poder ao que realizamos, por isso todos aqueles que não buscam o acesso a essa energia poderão olhar para nossas" conquistas com assombro e equipará-las a quem nós somos. No entanto, nós conhecemos a verdade que Jesus ressaltou quando disse: "De mim mesmo não posso fazer coisa alguma."3 Ao contrário do querer egóico, que gera oposição em proporção direta à intensidade do seu desejo, o entusiasmo nunca produz confronto. Sua atividade não cria vencedores nem perdedores. Ele se baseia na inclusão dos outros, e não na sua exclusão. Não precisa usar nem manipular as pessoas, pois é a energia da criação propriamente dita e, assim, não tem necessidade de extrair energia de nenhuma fonte secundária. Enquanto o desejo do ego sempre tenta tirar de alguma coisa ou de alguém, o entusiasmo contribui com sua própria abundância. Quando encontra obstáculos na forma de situações adversas ou de pessoas que não cooperam, ele nunca os ataca. Ao contrário: ou os contorna, ou cede, ou os aceita, convertendo a energia oposta numa energia útil, o inimigo num amigo.

  •  O ego e o entusiasmo não podem coexistir. Um implica a ausência do outro. O entusiasmo sabe para onde está indo, embora, ao mesmo tempo, esteja alinhado com o momento presente, a fonte da sua vitalidade, do seu prazer e do seu poder. Ele não "quer" nada porque não sente falta de nada. Encontra-se num estado de unificação com a vida. E, por mais dinâmicas que sejam as atividades inspiradas por ele, não nos perdemos nelas. Há sempre um espaço silencioso, mas intensamente vivo, no centro da ação, um núcleo de paz em sua essência - ele é a fonte de tudo e, ainda assim, permanece intocado pelo que quer que seja. 

  •  Por intermédio do entusiasmo entramos em completo alinhamento com o princípio criativo que emana do universo, sem, contudo, nos identificarmos com suas criações, isto é, com o ego. Quando não existe identificação, não existe vínculo - uma das maiores causas do sofrimento. Depois da passagem de uma onda de energia criativa, a tensão estrutural diminui novamente, enquanto nosso prazer com o que estamos fazendo permanece. Ninguém pode viver num estado permanente de entusiasmo. Uma nova onda de energia criativa poderá surgir mais tarde e produzir um entusiasmo renovado. 

  •  Quando o movimento de retorno direcionado à dissolução da forma se estabelece, o entusiasmo não nos serve mais, pois ele pertence ao ciclo de crescimento e expansão da vida. É apenas pela resignação que conseguimos nos alinhar com o movimento de retorno - a jornada de volta ao nosso lar.

  •  Resumindo: o prazer com aquilo que realizamos, combinado a uma meta ou visão para a qual trabalhamos, transforma-se em entusiasmo. Embora tenhamos um objetivo, o que estamos fazendo no momento presente tem que permanecer como o ponto focal da nossa atenção. Caso contrário, não estaremos mais em sintonia com o propósito universal.

  •  Não deixe que sua visão ou meta seja uma imagem inflada de si mesmo e, portanto, uma forma disfarçada do ego, como querer tornar-se uma celebridade do cinema ou da televisão, um escritor famoso ou um empreendedor milionário. Procure também se assegurar de que sua meta não esteja concentrada em ter alguma coisa, como uma mansão de frente para o mar, sua própria empresa ou uma fortuna no banco. Uma auto-imagem exacerbada ou uma visão de si mesmo como alguém que tem isso ou aquilo são propósitos estáticos e, portanto, não lhe dão poder. Em vez disso, torne seus objetivos dinâmicos, isto é, voltados para uma atividade em que você esteja envolvido e pela qual se ligue a outros seres humanos, assim como ao todo. Em lugar de se ver como alguém famoso, imagine que seu trabalho está sendo a fonte de inspiração para um grande número de pessoas e enriquecendo a vida delas. Observe como essa atividade aprimora ou aprofunda não apenas sua vida como a de muita gente. Sinta-se como uma abertura pela qual a energia flui da Origem não manifestada para toda a vida em benefício de todos. 

  •  Tudo isso requer que sua meta ou visão já seja uma realidade dentro de você, no nível da mente e do sentimento. O entusiasmo é o poder que transfere o projeto mental para a dimensão material. Esse é o uso criativo da mente, e é por isso que, nesse caso, não há envolvimento do querer. Você não pode manifestar o que quer, só é capaz de expressar o que já tem. Embora possa conseguir o que deseja por meio de muito trabalho e estresse, essa não é a maneira de ser da nova Terra. Jesus nos deu a chave para o uso criativo da mente e para a manifestação consciente da forma quando disse: "Por isso vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que tendes recebido, e ser-vos-á dado."4

O Prazer


  • A paz que acompanha a ação resignada transforma-se numa grande animação quando gostamos de verdade do que estamos fazendo. O prazer é a segunda modalidade da ação desperta. Na nova Terra, ele substituirá o querer como a força motivadora dos nossos atos. O querer deriva da ilusão do ego de que somos um fragmento isolado que está desligado do poder que se encontra por trás de toda criação. Por meio do prazer, nos conectamos a esse poder criativo universal. 

  •  Quando tornamos o momento presente, e não o passado nem o futuro, o nosso ponto focal, a capacidade que temos de gostar do que estamos fazendo aumenta extraordinariamente e, com ela, a qualidade da nossa vida. A alegria é o aspecto dinâmico do Ser. Sempre que o poder criativo do universo está consciente de si mesmo, ele se manifesta como prazer. Não precisamos esperar que aconteça algo "significativo" para que possamos nos alegrar com o que realizamos. Existe mais significado no prazer do que podemos precisar. A síndrome de "esperar para começar a viver" é um dos erros mais comuns do estado inconsciente. A expansão e a mudança positiva no nível exterior têm muito mais probabilidade de ocorrer na nossa vida se formos capazes de sentir prazer no que já estamos empreendendo, em vez de esperarmos por uma mudança para então passarmos a gostar do que fazemos.

  •  Não peça permissão à sua mente para apreciar o que você faz. Tudo o que obterá como resposta será uma série de motivos pelos quais não poderá sentir prazer naquilo. "Não agora. Não vê que está ocupado? Você não tem tempo. Talvez amanhã possa começar a sentir prazer...", dirá a mente. Esse amanhã nunca chegará, a não ser que você comece a sentir prazer com o que está executando agora. 

  • Sempre que dizemos "gosto de fazer isto", na verdade estamos cometendo um equívoco. Isso dá a impressão de que o prazer vem da ação, mas não é o caso. Ele flui para o que estamos fazendo e, dessa maneira, para o mundo, partindo do nosso íntimo. O erro de pensar que o prazer tem origem naquilo que executamos é normal. Porém, é também perigoso porque cria a idéia de que ele pode ser produzido por alguma coisa ou atividade. Assim, esperamos que o mundo nos dê prazer, felicidade. Entretanto, o mundo não consegue fazer isso. É por esse motivo que muitas pessoas vivem num permanente estado de frustração. A realidade não lhes concede aquilo de que elas pensam que precisam.

  •  Então, qual é a relação entre algo que estamos fazendo e o prazer? Sentimos prazer com qualquer atividade em que estejamos plenamente presentes, com toda ação que não seja apenas um meio para alcançarmos um fim. O que nos proporciona essa sensação não é o ato que executamos, e sim a energia vital que flui para ele. Essa animação e o que nós somos existem como uma coisa só. Isso significa que, quando temos prazer em fazer algo, estamos de fato sentindo a alegria do Ser no seu aspecto dinâmico. E por isso que tudo o que nos dá prazer nos coloca em contato com o poder que está por trás de toda criação. 

  •  Vou apresentar agora uma técnica espiritual que proporcionará mais poder e expansão criativa à sua vida. Faça uma lista das atividades cotidianas que você executa com freqüência. Inclua aquelas que considera desinteressantes, chatas, entediantes, irritantes ou estressantes. No entanto, não acrescente nada que você odeia ou detesta fazer - esses são casos para aceitação ou para deixar de realizar essas ações. Da relação podem constar a ida para o trabalho e a volta para casa, a compra de mantimentos, a preparação da comida ou qualquer coisa que você considere maçante ou estressante na sua rotina diária. Depois, quando estiver executando essas atividades, permita que elas sejam um veículo para o estado de alerta. Esteja absolutamente presente no que está fazendo e sinta sua atenção, o silêncio vivo dentro de você, como o pano de fundo desse ato. Logo descobrirá que, em vez de estressante, monótona ou irritante, sua ação no estado de consciência elevada acaba se tornando agradável. Para ser mais preciso, o que lhe dá prazer não é a ação externa em si, mas a dimensão interna da consciência que flui para ela. Isso é encontrar a alegria do Ser no que você está executando. Caso sinta que não há significado na sua vida ou que ela está cheia de tensão ou tédio, é porque ainda não incorporou essa dimensão. Agir com a consciência desperta ainda não se tornou seu objetivo principal.

  •  A nova Terra surge à medida que um número cada vez maior de pessoas vai descobrindo que seu propósito mais importante na vida é trazer a luz da consciência a este mundo e, assim, usa suas ações, sejam elas quais forem, como um veículo para a consciência.

  •  A alegria do Ser é a alegria de estar consciente.

  •  Então, a consciência desperta toma conta do ego e começa a conduzir nossa vida. Podemos descobrir que uma atividade em que estivemos envolvidos por um longo tempo começa a se tornar naturalmente algo bem maior quando fortalecida pela consciência.

  •  Algumas das pessoas que, por meio da ação criativa, enriquecem a vida de muitas outras estão simplesmente fazendo aquilo de que mais gostam - não têm a intenção de alcançar nada nem de se tornar nada por meio dessa atividade. Podem ser músicos, artistas plásticos, escritores, cientistas, professores, construtores ou indivíduos que criam novas estruturas sociais ou empresariais (negócios conscientes). Há casos em que sua esfera de influência permanece restrita durante alguns anos. Depois, súbita ou gradualmente, uma onda de poder criativo flui para o que eles estão executando. Assim, sua atividade se expande ultrapassando tudo o que possam ter imaginado e atinge um número imenso de pessoas. Além do prazer, uma intensidade é agora acrescentada às suas realizações e, com ela, surge uma criatividade que supera qualquer coisa que um ser humano comum poderia empreender.

  •  Em casos como esse, não devemos deixar que isso nos suba à cabeça porque um remanescente do ego pode estar se escondendo justamente ali. Ainda seremos um ser humano comum. O que é de fato extraordinário é o que entra no mundo por nosso intermédio. Mas essa é uma essência compartilhada por todos os seres. Hafiz, poeta persa do século XIV e mestre sufista, expressa essa verdade de forma maravilhosa: "Sou como um orifício na flauta pelo qual passa o sopro de Cristo. Ouça a música."1

A aceitação



  • Embora possamos não gostar de fazer determinadas coisas, precisamos ao menos aceitar que temos de executá-las. Aceitação significa o seguinte: por enquanto, o que esta situação, este momento, requer de mim é isto, então eu o faço de boa vontade. Já tratei da importância da aceitação interior do que acontece - e a aceitação do que devemos fazer é apenas outro aspecto disso. Por exemplo, provavelmente você não vai gostar de trocar um pneu à noite num lugar deserto e em plena chuva, e muito menos ficará entusiasmado com essa idéia. No entanto, pode se resignar a aceitar esse fato. Praticarmos uma ação no estado de aceitação é estarmos em paz enquanto a realizamos. Essa paz é uma vibração energética sutil que, em seguida, se transfere para o que estamos fazendo. Na superfície, a aceitação parece um estado passivo, entretanto ela é ativa e criativa porque traz algo novo ao mundo. Essa paz, essa vibração energética sutil, é a consciência. E uma de suas maneiras de se revelar é através da ação abnegada, que é um aspecto da aceitação.

  •  Caso você não consiga encontrar prazer no que vai fazer nem aceitar que deve executar isso - pare. Caso contrário, não estará assumindo a responsabilidade pela única coisa pela qual pode de fato se responsabilizar e que também é algo que importa de verdade: seu estado de consciência. E, se você não assume a responsabilidade pelo seu estado de consciência, não assume a responsabilidade pela vida.

As três modalidades de ação desperta


  • A consciência pode fluir para o que fazemos de três maneiras e, assim, por nosso intermédio, penetrar no mundo. São três modalidades que nos permitem alinhar nossa vida com o poder criativo do universo. Modalidade corresponde à freqüência energética subjacente que chega às nossas ações e as conecta à consciência desperta que está surgindo no mundo. A menos que decorra de uma dessas três modalidades, qualquer coisa que façamos será marcada pela disfunção e pertencerá ao ego.

  •  As modalidades podem mudar no transcorrer do dia, e uma delas talvez seja predominante num estágio específico da nossa vida. Cada uma delas é adequada a determinadas situações. As modalidades de ação desperta são aceitação, prazer e entusiasmo. Cada uma delas representa uma freqüência vibracional da consciência. Precisamos estar atentos para garantir que uma modalidade permaneça ativa sempre que estivermos envolvidos na execução de algo - da tarefa mais simples à mais complexa. Caso não estejamos nem no estado de aceitação, nem de prazer nem de entusiasmo, é porque estamos causando sofrimento a nós mesmos e aos outros.

A ação desperta


  • A ação desperta é o aspecto exterior do estágio seguinte da evolução da consciência no nosso planeta. Quanto mais nos aproximamos do fim do nosso atual estágio evolucionário, maior a disfunção do ego - é uma disfunção semelhante à que ocorre com a lagarta pouco antes de se tornar borboleta. A nova consciência, contudo, está surgindo ao mesmo tempo em que a antiga se dissolve. 

  • Estamos em meio a um acontecimento da maior importância na evolução da consciência humana, entretanto esse assunto não vai sair no jornal. No nosso planeta, e talvez simultaneamente em muitas partes da nossa galáxia e além dela, a consciência está despertando do sonho da forma. Nem todas as formas (o mundo) irão se dissolver, embora seja certo que muitas desaparecerão. Isso significa que a consciência pode agora começar a criar a forma sem se perder nela. Tem como permanecer consciente de si mesma até enquanto a gera e a sente. Por que ela deveria continuar a criar e sentir a forma? Pelo prazer que essa ação proporciona. De que maneira a consciência faz isso? Por meio de seres humanos despertos que aprenderam o significado da ação desperta. 

  •  A ação desperta é o alinhamento do nosso propósito exterior - o que fazemos - com nosso propósito interior - despertarmos e nos mantermos despertos. Por meio dela, entramos no estado de unificação com o propósito que sai do universo. Através de nós a consciência flui para o mundo. Ela se derrama sobre nossos pensamentos e os inspira. Inunda todas as nossas realizações, as orienta e fortalece. 

  •  O que determina se estamos cumprindo nosso destino não é o que fazemos, e sim como fazemos. E essa maneira de realizar as coisas é estabelecida por nosso estado de consciência.

  •  Uma inversão das nossas prioridades ocorre quando o propósito principal de executarmos algo se transforma na ação em si, ou melhor, na corrente de consciência que flui para ela. Esse fluxo de consciência é o que determina a qualidade. Em outras palavras: em qualquer situação e em tudo o que fazemos, nosso estado de consciência é o fator primário, enquanto a situação e o que executamos é secundário. O sucesso "futuro" é dependente e inseparável da consciência da qual emanam as ações. Ela pode ser tanto a força reativa do ego quanto a atenção alerta da consciência desperta. Toda ação verdadeiramente bem-sucedida se origina desse campo de atenção alerta, e não do ego e do pensamento inconsciente, condicionado.

A consciência


  • A consciência já é consciente. Ela é o não-manifestado, o eterno. O universo, porém, só está se tornando consciente pouco a pouco. A consciência em si é infinita e, portanto, não evolui. Nunca nasceu e não morre. Quando ela se transforma no universo manifestado, parece estar sujeita ao tempo e a um processo evolutivo. Nenhuma mente humana é capaz de compreender plenamente o motivo desse processo. No entanto, podemos ter um vislumbre dele dentro de nós mesmos e vivenciá-lo como participantes conscientes.

  •  A consciência é a inteligência, o princípio organizador por trás do surgimento da forma. Ela vem elaborando formas por milhões de anos para que possa se expressar através delas no plano manifestado.

  •  Embora o nível não manifestado da consciência pura possa ser considerado outra dimensão, ele não está separado dessa dimensão da forma. A forma e a ausência de forma se inter-penetram. O não-manifestado inunda essa dimensão como consciência, espaço interior, presença. Como ele faz isso? Por meio da forma humana que se torna consciente e, assim, cumpre seu destino. Ela foi criada para esse propósito superior, e milhões de outras formas prepararam o terreno para ela.

  •  A consciência encarna na dimensão manifestada, ou seja, se torna forma. Quando faz isso, ela entra num estado semelhante ao sonho. A inteligência permanece, porém a consciência fica inconsciente de si mesma. Perde-se nas formas, identifica-se com elas. Isso poderia ser descrito como a descida do divino à matéria. Nesse estágio da evolução do universo, todo o movimento de saída acontece no estado semelhante ao sonho. Lampejos do despertar surgem apenas no momento da dissolução de uma forma individual, isto é, na morte. Em seguida, começa a encarnação seguinte, a nova identificação com a forma, o próximo sonho individual que faz parte do sonho coletivo. Quando o leão dilacera o corpo da zebra, a consciência que encarnou na forma de zebra se distancia da forma em dissolução e, por um instante, desperta para sua natureza imortal essencial como consciência. Em seguida, entrega-se imediatamente ao sono e reencarna em outra forma. Quando o leão envelhece e não consegue mais caçar, assim que dá o último suspiro, ocorre de novo o mais breve dos lampejos de um despertar, seguido por outro sonho com a forma.

  •  No nosso planeta, o ego humano representa o estágio final do sono universal, a identificação da consciência com a forma. Foi uma etapa necessária na evolução da consciência. 

  •  O cérebro humano é uma forma altamente diferenciada pela qual a consciência entra nesta dimensão. Ele contém em torno de 100 bilhões de células nervosas (os neurônios), quase o mesmo número de estrelas que existem na nossa galáxia, e poderia ser considerado um cérebro macrocósmico. Esse órgão não cria a consciência, no entanto a consciência o criou - como a mais complexa forma física sobre a Terra - para sua expressão. Quando ele sofre um dano, isso não significa que nós perdemos a consciência, e sim que ela não consegue mais usar essa forma para entrar nesta dimensão. E impossível perdermos a consciência porque ela é, em essência, quem nós somos. Só podemos perder aquilo que temos, e não algo que somos.

O despertar e o movimento de saida


  • A expansão natural da vida de uma pessoa, que ocorre junto com o movimento de saída, em geral é usurpada pelo ego e usada para sua própria expansão. "Veja o que eu sou capaz de fazer. Duvido que você consiga fazer isso", diz uma criança a outra quando descobre que seu corpo está ficando mais forte e ágil. Essa é uma das primeiras tentativas do ego de se destacar pela identificação com o movimento para fora e com o conceito "mais do que você" e se fortalecer pela diminuição dos outros. E claro que isso é apenas o começo dos seus muitos erros de percepção. 

  •  Entretanto, à medida que nossa consciência aumenta e o ego deixa de controlar nossa vida, não temos que esperar até que nosso mundo encolha ou entre em colapso por causa da velhice ou de uma tragédia pessoal para despertarmos para o propósito interior. Como a nova consciência está começando a surgir no planeta, é cada vez maior o número de pessoas que já não precisam ser sacudidas para despertar. Elas abraçam esse processo de modo voluntário até mesmo enquanto ainda estão envolvidas no ciclo de crescimento e expansão. Quando esse ciclo deixar de ser usurpado pelo ego, a dimensão espiritual entrará tão poderosamente no mundo através do movimento de saída - pensamento, fala, ação, criação - quanto por meio do movimento de retorno - silêncio, Ser e dissolução da forma.

  •  Até agora, a inteligência humana, que não é mais do que um aspecto minúsculo da inteligência universal, tem sido distorcida e mal empregada pelo ego. Chamo isso de "inteligência a serviço da loucura". A fissão nuclear requer uma inteligência superior. Usar essa inteligência para fabricar e estocar bombas nucleares é loucura ou, na melhor das hipóteses, uma estupidez extrema. A estupidez em si até pode ser inofensiva, porém a estupidez inteligente é extremamente perigosa. Ela está ameaçando nossa sobrevivência como espécie, e há incontáveis exemplos óbvios disso.

  •  Quando livre do desajuste provocado pelo distúrbio egóico, a inteligência entra em pleno alinhamento com o ciclo de saída da inteligência universal e seu impulso para criar. Passamos a ser participantes conscientes da geração da forma. Os criadores não somos nós, e sim a inteligência universal, que atua por nosso intermédio. Como não nos identificamos com o que produzimos, não nos perdemos no que fazemos. Estamos aprendendo que o ato da criação pode envolver energia da mais alta intensidade, mas que isso não é um "trabalho duro" nem estressante. Precisamos compreender a diferença entre estresse e intensidade, como veremos. A luta e o estresse são sinais de que o ego voltou, assim como nossas reações negativas diante de obstáculos.

  •  A força por trás do desejo do ego cria "inimigos", isto é, a reação na forma de uma força oposta de igual intensidade. Quanto mais forte o ego, mais forte o sentido de separação entre as pessoas. As únicas ações que não causam reações opostas são aquelas que se destinam ao bem de todos. Elas são inclusivas, e não exclusivas. Unem em vez de afastar. Não são para "meu" país, mas para toda a humanidade; não são para "minha" religião, mas para o surgimento da consciência em todos os seres humanos; não são para "minha" espécie, mas para todos os seres sencientes e para toda a natureza. 

  • Também estamos aprendendo que a ação, embora necessária, é apenas um fator secundário na manifestação da nossa realidade externa. O fator primário na criação é a consciência. Não importa quanto sejamos ativos, quanto esforço realizamos, nosso estado de consciência cria nosso mundo. Portanto, se não houver uma mudança nesse nível interior, a quantidade das ações que executamos não fará diferença. Vamos apenas recriar novas versões do mesmo mundo vezes sem conta, um mundo que é um reflexo externo do ego.

domingo, 10 de novembro de 2013

O despertar e o movimento de retorno


  • O movimento de retorno na vida de uma pessoa, o enfraquecimento ou a dissolução da forma, seja por meio do envelhecimento, da doença, da incapacidade, da perda ou de algum tipo de tragédia pessoal, contém um grande potencial para o despertai espiritual - o rompimento da identificação da consciência com a forma. Considerando o fato de que não há muita verdade espiritual na cultura contemporânea, poucas são as pessoas que reconhecem esses eventos como uma oportunidade. Assim, quando eles acontecem com elas ou com alguém próximo, sua crença é de que existe algo terrivelmente errado, alguma coisa que não deveria estar ocorrendo.

  •  Na nossa civilização existe um profundo desconhecimento da condição humana. E, quanto mais ignorantes somos em termos espirituais, mais sofremos. Para um grande número de pessoas, sobretudo no Ocidente, a morte não passa de um conceito abstrato. Assim, elas não fazem idéia do que acontece com a forma humana quando ela se aproxima da dissolução. Muitos indivíduos debilitados e velhos são trancafiados em asilos. Os cadáveres, que, em algumas culturas mais antigas, permanecem em exibição para que todos os vejam, são escondidos. Nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos, quem tenta ver um cadáver descobre que isso é virtualmente ilegal, a não ser que o morto seja seu parente próximo. Nas casas funerárias chega-se a maquiar o rosto dos defuntos. Só nos permitem ver uma versão limpa e bem arrumada da morte.

  •  Uma vez que a morte é apenas um conceito abstrato para essas pessoas, a maioria delas está totalmente despreparada para a dissolução da sua própria forma. Quando esse momento se aproxima, há choque, incompreensão, desespero e grande medo. Nada mais faz sentido porque, para elas, todo o significado, todo o propósito da vida estava associado a acumular, ter sucesso, construir, proteger e sentir-se gratificado. Ele estava vinculado ao movimento de saída e à identificação com a forma, isto é, com o ego. A maior parte dos seres humanos não é capaz de ver nenhum sentido quando sua vida, seu mundo, está sendo demolido. Mesmo assim, esse momento contém um significado potencialmente ainda mais profundo do que o movimento de saída.

  •  E precisamente com a chegada da velhice, com a vivência de uma perda ou de uma tragédia pessoal que a dimensão espiritual entra na vida das pessoas. Ou seja, seu propósito interior só aparece quando seu propósito exterior entra em colapso e a concha do ego começa a rachar. Esses acontecimentos representam o início do movimento de retorno em direção à dissolução da forma. Nas culturas mais antigas, deve ter havido uma compreensão intuitiva desse processo, e é por isso que os idosos eram respeitados e reverenciados. Eles eram os repositórios da sabedoria e ofereciam a dimensão da profundidade, sem a qual nenhuma civilização pode sobreviver por muito tempo. Na nossa cultura, que é totalmente identificada com o exterior e desconhece a dimensão interior do espírito, a palavra "velho" tem muitas conotações negativas, como obsoleto ou ultrapassado. Assim, consideramos quase um insulto chamar alguém de velho. Para evitar isso, usamos eufemismos como idoso ou antigo. Por que os velhos são considerados obsoletos? Porque na velhice a ênfase muda do fazer para o Ser, e nossa civilização, que está perdida no fazer, não sabe nada do Ser. Ela pergunta: "Ser? O que se faz com isso?" 

  •  No caso de algumas pessoas, o movimento de saída, do crescimento e da expansão, é interrompido de modo radical pela chegada aparentemente prematura do movimento de retorno, a dissolução da forma. Às vezes é uma suspensão temporária; outras vezes, permanente. Acreditamos que as crianças não deveriam ter que encarar a morte, no entanto o fato é que algumas delas têm que enfrentar o falecimento de um dos pais ou de ambos em razão de uma doença ou de um acidente - ou até mesmo a possibilidade da sua própria morte. Existem crianças que nascem com deficiências que impõem uma restrição severa à expansão natural da sua vida. Assim como há pessoas que se vêem diante de uma limitação grave quando ainda têm pouca idade.

  •  A interrupção do movimento de saída num momento em que isso "não deveria acontecer" também tem potencial para desencadear o despertar espiritual prematuro de uma pessoa. Afinal de contas, não acontece nada que não deva acontecer, isto é, tudo o que ocorre faz parte do todo maior e do seu propósito. Assim, a destruição, ou a ruptura, do propósito exterior pode levar uma pessoa a descobrir seu propósito interior e, em seguida, um propósito exterior mais profundo que esteja alinhado com o interior. As crianças que passam por muito sofrimento costumam se transformar em adultos jovens mais amadurecidos para sua idade.

  •  O que perdemos no nível da forma ganhamos no nível da essência. Na figura tradicional do "profeta cego" ou do "curandeiro aleijado" das culturas e lendas antigas, uma grande perda ou incapacidade no nível da forma converte- se numa abertura para o espírito. Quando alguém tem uma experiência direta da natureza instável de todas as formas, provavelmente nunca mais vai supervalorizar a forma e, assim, se perder por sua busca cega ou vincular-se a ela. 

  •  A cultura contemporânea está apenas começando a reconhecer a oportunidade que a dissolução da forma, sobretudo a velhice, representa. Em relação à maioria das pessoas, essa chance ainda é tragicamente ignorada porque o ego se identifica com o movimento de retorno da mesma maneira como se identifica com o movimento de saída. O resultado disso é um endurecimento da concha egóica, uma contração em vez de uma abertura. O ego diminuído passa o resto dos seus dias se lamentando ou se queixando, preso ao medo ou à raiva, à autopiedade, à culpa, a acusações ou a outros estados negativos mentais e emocionais ou a estratégias evasivas, como se apegar a lembranças e falar e pensar sobre o passado.

  •  Quando o ego não está mais identificado com o movimento de retorno da vida de uma pessoa, a velhice ou a proximidade da morte torna-se o que se destina a ser: uma abertura para o reino espiritual. Conheci idosos que eram personificações vivas desse processo. Eles haviam se tornado radiantes. A forma do seu despertar se tornara transparente à luz da consciência.

  •  Na nova Terra, a velhice será universalmente reconhecida e valorizada como um período para o florescimento da consciência. Para aqueles que ainda estiverem perdidos nas circunstâncias externas da vida, será o momento de uma volta ao lar tardia, quando irão despertar para seu propósito interior. No caso de outras pessoas, representará a intensificação e o auge do processo do despertar.

Uma breve história da nossa vida


  • A ida do mundo em direção à sua forma manifestada e seu retorno ao não-manifestado - sua expansão e contração - são dois movimentos universais que podemos chamar de a saída de casa e a volta ao lar. Ambos se refletem em todo o universo de muitas maneiras, como na incessante expansão e contração do coração, assim como nos atos contínuos de inspirar e expirar. Também se revelam nos ciclos do sono e da vigília. Toda noite, sem sabermos, retornamos para a Origem não manifestada de toda a vida quando entramos no estágio do sono profundo, sem sonhos, e depois, revigorados, ressurgimos pela manhã.

  •  Esses dois movimentos, a saída e o retorno, estão também espelhados nos ciclos de vida de cada pessoa. A partir do nada, por assim dizer, "nós" de repente aparecemos neste mundo. O nascimento é seguido da expansão. Esse crescimento não é apenas físico - há também a ampliação do conhecimento, das atividades, dos bens, das experiências. Nossa esfera de influência se alarga e a vida se torna cada vez mais complexa. Esse é o momento em que estamos especialmente preocupados em encontrar ou perseguir nosso propósito exterior. Em geral, há um aumento correspondente do ego, que é a identificação com todas aquelas coisas que mencionei. Com isso, a identidade da nossa forma torna-se cada vez mais definida. Esse é ainda o período em que o propósito exterior - o crescimento - costuma ser usurpado pelo ego, que, ao contrário da natureza, não sabe quando parar na sua busca por expansão e tem um apetite voraz por mais. 

  •  Assim, justamente quando pensamos que conseguimos o que queremos ou que pertencemos a este lugar, o movimento de retorno começa. Talvez as pessoas próximas a nós, as que fazem parte do nosso mundo, comecem a morrer. Nossa forma física se enfraquece, nossa esfera de influência encolhe. Em vez de nos tornarmos mais, passamos a ser menos, e o ego reage a isso com crescente ansiedade ou depressão. E o início do movimento de contração do nosso mundo, e podemos achar que não temos mais o controle sobre ele. Em vez de agirmos sobre a vida, agora é ela que age sobre nós, reduzindo pouco a pouco nosso mundo. A consciência que se identificava com a forma está vivenciando o ocaso, a dissolução da forma. Então, um dia, nós também desaparecemos. Nossa poltrona continua no lugar. Porém, já não nos sentamos mais nela - ali existe somente um espaço vazio. Voltamos para o lugar de onde partimos apenas alguns anos antes. 

  •  A vida de cada pessoa - de cada forma de vida, na verdade -representa um mundo, um modo exclusivo pelo qual o universo sente a si mesmo. E, quando nossa forma se dissolve, um mundo chega ao fim - um dos incontáveis mundos.

Uma nova Terra


  • Os astrônomos descobriram evidências para sugerir que o universo começou a existir 15 bilhões de anos atrás numa explosão gigantesca e que vem se expandindo desde então. Além disso, sua complexidade está aumentando, o que o torna cada vez mais diferenciado. Alguns cientistas postulam também que esse movimento da unidade para a multiplicidade acabará se revertendo. O universo vai parar de se expandir e começará a se contrair outra vez até, finalmente, retornar ao não-manifestado, à condição do nada de onde veio - e talvez repita os ciclos de nascimento, expansão, contração e morte por vezes seguidas. Com que propósito? "Afinal, por que o universo se dá a todo esse trabalho de existir?", pergunta o físico Stephen Hawking, compreendendo, ao mesmo tempo, que nenhum modelo matemático jamais poderia fornecer a resposta. 

  •  Se olharmos para dentro e não apenas para fora, porém, descobriremos que possuímos um propósito interior e outro exterior. E, como somos um reflexo microcósmico do macrocosmo, podemos admitir que o universo também tem um propósito interior e outro exterior inseparáveis dos nossos. Seu propósito exterior é criar formas e vivenciar sua interação - o sonho, o jogo, a encenação, seja lá como for que você prefira chamar isso. Seu propósito interior é despertar para sua própria essência sem forma. Em seguida, vem a reconciliação entre os propósitos exterior e interior: levar essa essência - consciência - para o universo das formas e, desse modo, transformar o mundo. O propósito supremo dessa mudança vai muito além de tudo o que a mente humana consegue imaginar ou compreender. E, ainda assim, neste planeta, neste momento, essa transformação é a tarefa que nos cabe. Ou seja, é a harmonização dos dois propósitos, exterior e interior - do mundo com Deus.

  •  Antes de considerarmos a relevância que a expansão e a contração do universo têm sobre nossa vida pessoal, precisamos ter em mente que nada que é dito sobre a natureza do universo deve ser considerado como verdade absoluta. Nem os conceitos nem as fórmulas matemáticas podem explicar o infinito. Nenhum pensamento é capaz de conter a vastidão da totalidade. A realidade é um todo unificado, entretanto o pensamento a divide em fragmentos. Isso causa erros básicos de interpretação - por exemplo, de que existem coisas e acontecimentos separados ou que isto é a causa daquilo. Todo pensamento pressupõe uma perspectiva, enquanto toda perspectiva, pela sua própria natureza, implica limitação, o que, em última análise, significa que não é verdadeira, pelo menos não absolutamente. Apenas o todo é verdadeiro, porém o todo não pode ser expresso em palavras nem em pensamentos. De uma perspectiva distante das limitações do pensamento e, portanto, incompreensível à mente humana, tudo está acontecendo agora. Tudo o que sempre foi ou o que será existe agora, fora do tempo, que é uma construção mental.

  •  Como exemplo de verdade relativa e absoluta, considere o nascer e o pôr-do-sol. Quando dizemos que o Sol nasce de manhã e se põe ao entardecer, isso é verdade, porém apenas relativamente. Em termos absolutos, é falso. Somente da limitada perspectiva de um observador que esteja na superfície da Terra ou próximo a ela é que o Sol nasce e se põe. Se ele estivesse distante no espaço, veria que o Sol não faz uma coisa nem outra, mas que brilha sem parar. No entanto, mesmo depois de compreendermos isso, podemos continuar a nos referir ao nascer e ao pôr-do-sol, a apreciar sua beleza, a pintá-los, a escrever poemas sobre eles, embora agora saibamos que essa é uma verdade relativa, e não absoluta. 

  •  Assim, vou me estender por um momento sobre outra ver-dade relativa: a constituição da forma do universo e seu retorno ao estado sem forma, o que pressupõe a perspectiva limitada do tempo, e observar que relevância isso tem sobre nossa vida pessoal. O conceito "minha própria vida" é, evidentemente, outra perspectiva limitada pelo pensamento, mais uma verdade relativa. Em última análise, não existe nada como "minha", "sua" ou "nossa" vida, uma vez que nós e a vida não estamos separados, somos um.